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Artigo - Trabalhadores da cultura onde estamos?
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O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.

Artigo - Trabalhadores da cultura onde estamos?

"Para que a cultura e seus negócios sejam entendidos, acredito que aqui e agora não devemos brincar de elitismo e exceção", aponta em artigo o professor e músico Heriberto Porto
Tipo Opinião
Heriberto Porto é professor da Uece e músico (Foto: REPRODUÇÃO)
Foto: REPRODUÇÃO Heriberto Porto é professor da Uece e músico

Que tal falar de Cultura, essa palavra abstrata que quer dizer tudo e nada ao mesmo tempo, que para alguns tem cheiro de prestígio, essa palavra que não consegue unir, a emocionar, a concentrar nela os pensamentos e as energias necessária a fazê-la sair de sua trincheira. O mundo político está preocupado com as empresas mas os trabalhadores da cultura onde estamos? O que ouço em todo canto é que a cultura nesse momento é necessária por que ela "acalma".

Claro, ela pode acalmar, distrair, ela faz de tudo, só não limpa a casa. Ela está aqui não só para se evadir mas também para incomodar, para escandalizar, para revolucionar. Resumir a cultura para um "calmante" ou uma distração é um grande equívoco. Sobretudo ela era o meio de vida de milhares, mais de um milhão de pessoas. 4 a 5% do PIB. Muito mais do que muitas indústrias.

Mas quando o setor cultural chora pela generosidade do público e o apoio das instituições, parece mendigagem. Os artistas sem seu trabalho são vistos como crianças mimadas.

No entanto, é assim que autores, intérpretes, técnicos, diretores de salas, etc. estão sendo vistos. Como funções sem função. Alguns estão indo bem graças a sua notoriedade, mas existe um grande mal entendido. Quantas vezes fizemos trabalhos não pagos mas que seria um ótima "vitrine". Será que agora podemos ser vidraceiros?

Mas quem sabe ? Quem sabe, no público em geral, o que um intérprete ganha com sua música, um escritor com seu romance, um dramaturgo com sua peça?

Quem pode adivinhar que existem, por exemplo, todos esses caras que estão na estrada dirigindo caminhões de equipamentos, seguranças, assessores de imprensa. Os músicos, os dançarinos. Os engenheiros de som, os técnicos de luz. até a senhora que cuida do banheiro. Mantemos a ideia de que os artistas são alguns faraós e milhões de sanguessugas, parasitas sempre a reclamar, é assim que são vistas as pessoas da cultura, como aproveitadores, desempregados eternos que ocasionalmente fazem um trabalho subsidiado com nossos impostos. A expressão "artista subsidiado" é um insulto. Enquanto a imprensa é subsidiada, organizações sem fins lucrativos, ONGs, que quase todos são subsidiados, inclusive parte da indústria, mas quando são as pessoas da cultura, tornam-se subitamente escandalosas. "Mas a Rouanet..."

Sim, acho que há um problema de comunicação. Que isso é parcialmente culpa da mídia, mas também acredito que existe um subtexto vinculado à nobreza da atividade que torna os "culturais" inaudíveis neste momento. Acho que não devemos dizer "Devemos ser salvos porque somos o último baluarte contra a barbárie, os vigias da democracia", mas "devemos ser salvos como salvaríamos qualquer um", porque se salvarmos os fabricantes e comerciantes , não há razão para nos deixar para trás.

Para que a cultura e seus negócios sejam entendidos, acredito que aqui e agora não devemos brincar de elitismo e exceção, que devemos dizer que não deve haver exceção. Não sei como devemos fazê-lo. Mas sei que não fizemos o suficiente por muito tempo. A palavra "cultura" geralmente vem junto da palavra vergonha, vergonha por não amar, vergonha por não entender, vergonha por não estar interessado. E talvez seja essa vergonha que algumas pessoas joguem à nossa cara hoje, com seu desdém. Eu não tenho solução.

Não sei se você um dia vai poder tocar suas músicas em salas marcadas de dois em dois metros para a plateia mascarada ou encenar o amor atrás de um acrílico. Não sei se ainda restam alguns clientes para os concertos e peças teatrais, não sei se existe um nobre austríaco ou um dono de um grande moinho que nos ouve ou um banqueiro rico que gostaria de adotar músicos sem inspiração. Mas vejo, finalmente, que se os museus podem reabrir, a criação se fecha. Queria um dia de silêncio, sem ninguém tocando, quem sabe nos ouçam.

Heriberto Porto é professor da UECE e integrante da diretoria do Sindimuce

Foto do Eliomar de Lima

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