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Artigo - Prostitutas na vida de Jesus
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O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.

Artigo - Prostitutas na vida de Jesus

"Durante sua passagem por este vale de lágrimas, o filho de Deus sempre usou de misericórdia e compaixão para com todos", aponta em artigo o jornalista e poeta Barros Alves
Tipo Opinião
Barros Alves é jornalista e poeta (Foto: MATEUS DANTAS)
Foto: MATEUS DANTAS Barros Alves é jornalista e poeta

Os que somos cristãos acreditamos piamente que Jesus é o Filho de Deus, uma das pessoas da Santíssima Trindade. Portanto, puro, santo, imaculado, não tendo jamais conhecido o pecado. Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, encarna o mistério trindático. Nascido de mulher por obra e graça do Espírito Santo, abstraiu-se da essência divina e se fez carne para habitar entre nós por amor da humanidade. Como homem viveu e conviveu em sociedade, teve forme, teve angústias, chorou, protestou, reagiu a abusos, agiu impetuosamente em determinado momentom e até usou um chicote para expulsar a malandragem que tirava proveito do templo sagrado dos judeus. O erudito John P. Meyer diz que ele foi um judeu marginal, exatamente por não ter aceitado a hipocrisia patrocinada por castas religiosas, econômicas e políticas que preferiam radicalizar a observação da tradição em detrimento do amor ao próximo. Raça de víboras, sepulcros caiados. Enfim, como ele próprio deixou claro, ele veio ao mundo não para salvar os bons, os bem comportados, os que observavam, ou pelo menos tentavam observar os mandamentos escritos por Moisés. Veio para salvar os desviados, os pecadores.

Seguindo a retilineidade do Jesus histórico no respeitante à ascendência genealógica do Mestre, a Bíblia não olvida determinadas personagens que poderiam, digamos, manchar a reputação familiar do Messias. Ali estão nomes como o de Raabe e Bate-Seba, por exemplo, cuja história não se coaduna com a visão puritana de muitos cristãos dos dias hodiernos. Raabe, a prostituta (Josué 2.1; Mateus 1.5) e Bate-Seba, “aquela que fora mulher de Urias” (Mateus 1.6) estão inscritas na árvore genealógica de Jesus. É certo que no caso de Bate-Seba, mulher do general Urias que Davi tomou para si, cometendo grande pecado, não se sabe se o poderoso rei de Israel a possuiu com ou sem consentimento dela. Todavia, o sábio e admirado Salomão, é filho da traição e do assassinato, posto que Davi ordenou a seu lugar-tenente, Joabe, que Urias fosse colocado na vanguarda do Exército que combatia os amonitas: "Ponde Urias na frente, no mais forte da batalha, e retirai-vos dele para que seja ferido e morra". Depois desses atos condenáveis, “o homem segundo o coração de Deus” recebeu duro castigo, a começar pela morte do primeiro filho resultante da união pecaminosa. Absalão, filho de Davi e Maacá), se rebela e lhe dá uma dor de cabeça dos diabos. Interessante é que as demais mulheres de Davi (Mical, Abigail, Ainoã, Eglá, Maacá de Gesur, Hagite e Abital) são citadas “en passant” na Bíblia. Ao contrário da sempre lembrada Bate-Seba que, aliás, conspira com sucesso para fazer seu filho Salomão herdeiro do trono davídico, em detrimento do primogênito Amnom, filho de Ainoã.

No caso de Raabe, de fato, a outra mulher que está na linha da ascendência de Jesus, ela era uma prostituta. Liz Curtis Higgs (“Meninas Más da Bíblia”) lembra que “havia dois tipos de prostitutas naquele tempo – as religiosas que trabalhavam nos templos de Canaã e as prostitutas comuns que trabalhavam por dinheiro. Raabe trabalhava por dinheiro.” Essa autora observa que “alguns comentários bíblicos insistem que Raabe era mais como uma ‘hospedeira’. Sem dúvida sua casa, situada nos portões da cidade de Jericó, servia a muitos viajantes desgastados. A diferença era que pelo mesmo preço de lençóis limpos o hóspede encontrava uma mulher entre eles.” Com efeito, a maioria das traduções da Bíblia usa a palavra prostituta para identificar a acolhedora Raabe. O texto que está no livro de Josué 2.1 é o mais identificador. Quando o sucessor de Moisés se preparava para atravessar o Jordão e adentrar na Terra Prometida, enviou batedores para reconhecimento do terreno e da situação em Jericó: “De Sitim enviou Josué, filho de Num, dois homens, secretamente, como espias, dizendo: Andai e observai a terra e Jericó. Foram, pois, e entraram na casa de uma mulher prostituta, cujo nome era Raabe, e pousaram ali.” Esta mulher, convertida e transformada, deu provas de fidelidade a Deus e inscreveu seu nome não apenas na genealogia de Jesus, mas no Livro dos Justos. Assim o diz o escritor de Hebreus: “Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes porque acolheu com paz os espias.” Raabe é trisavó do Rei Davi. Não nos esqueçamos que o Messias “foi feito da linhagem de Davi segundo a carne”, conforme registra O Apóstolo São Paulo (Rm 1.3; 2 Tm 2.8). Portanto, descendente de Raabe.

Durante sua passagem por este vale de lágrimas, o filho de Deus sempre usou de misericórdia e compaixão para com todos, em especial para com aqueles feridos na alma, angustiados, aflitos, atormentados por dores morais, dores do pecado, sejam eles de qualquer nível social ou econômico. Vê-se que com Jesus não calhava esse discurso de “opção preferencial pelos pobres.” A opção do Filho de Deus era única e exclusivamente pel salvação dos seres humanos, sempre concitados à recuperação, à transformação, à conversão. Casos que merecem registro, quando se trata do relacionamento de Jesus com as mulheres, em sua caminhada terrena, são os da samaritana, com quem o Mestre dialogou longamente; o da mulher pecadora, e o de Maria de Magdala, sobre os quais discorreremos no próximo artigo.

Barros Alves é jornalista, poeta e assessor parlamentar

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