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Artigo - Ciro Gomes nos "Diários da Presidência" de FHC
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O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.

Artigo - Ciro Gomes nos "Diários da Presidência" de FHC

"Apesar das quase quatro mil páginas, a obra não constitui leitura fastidiosa, porque conta muito do que ocorreu nos bastidores do poder em nosso País", aponta em artigo o jornalista e poeta Barros Alves
Tipo Opinião
Barros Alves é jornalista e poeta (Foto: MATEUS DANTAS)
Foto: MATEUS DANTAS Barros Alves é jornalista e poeta

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deixa-nos um importante legado biobibliográfico para a história da política brasileira, os “Diários da Presidência”, registros que inicialmente foram gravados de maneira sistemática, durante os anos em que governou o Brasil em dois mandatos presidenciais (1995 a 2001). Esses depoimentos foram publicados em quatro alentados volumes pela Editora Companhia das Letras (Vol. 1, 1995-1996, em 2015; Vol. 2, 1997-1998, em 2016; Vol. 3, 1999-2000, em 2017; Vol. 4, 2001-2002, em 2019). Apesar das quase quatro mil páginas, a obra não constitui leitura fastidiosa, porque conta muito do que ocorreu nos bastidores do poder em nosso País, com informações preciosas para quantos se interessam pela nossa história contemporânea.

Por agora, detenho-me apenas nos comentários e conceitos que o ex-presidente tucano faz de importante personalidade da vida nacional, o cearense Ciro Gomes, de quem era correligionário, mas que ao depois, com o passar do tempo, os embates partidários e os destemperos do ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda no governo Itamar, tornou-se desafeto figadal. FHC não poupa críticas a Ciro Gomes. E este tem desancado FHC desde que o presidente não permitiu a continuação dele, Ciro, no comando da Economia. No primeiro mandato, ofereceu-lhe o Ministério da Saúde, que foi rejeitado. “Naquele momento disse ao Tasso que não tinha pensado no Ciro para a continuidade na área da Fazenda, mas que asseguraria uma posição para ele no governo. Reiterei isso ao Ciro com muita energia. E queria mesmo, porque ele tem uma porção de qualidades que podiam ser úteis. Até que o Ciro me disse um sonoro ‘não’ com bastante firmeza, e eu o felicitei, porque acho que o mais adequado para ele, que é muito moço, é passar um tempo em Harvard.” (Vol. 1, pág. 35). Segundo FHC, Ciro teria se colocado à disposição do governo caso “algum fusível” queimasse durante a caminhada tucana no governo. Nesse entretempo o Beni Veras, vice-governador de Tasso, foi sondado para comandar o Ministério da Educação, mas ele declinou em razão dos problemas de saúde por que passava.

O fato é que depois daquela conversa, o relacionamento entre FHC e Ciro só azedou. Daquele momento por diante choveram farpas de ambos os lados. FHC começa fazendo crítica aos rumos da economia no início de seu governo e colocando a culpa do descompasso em Ciro. Ele afirma que comandava o processo de feitura do Plano Real, depois o Ricupero tinha as rédeas. “Nunca houve unidade, sempre houve diversificação, mas havia uma voz que se sobrepunha a todos. E nesse momento DEPOIS QUE O CIRO PERDEU O CONTROLE DA SITUAÇÃO, deixou de haver, e não está havendo no meu governo.” (vol 1, pág. 104). A partir daí as coisas só desandaram entre ambos e a imprensa contribuiu para jogar lenha na fogueira. Em 1996 Ciro já andava de namoro com o PT, fechando acordo em Sobral para eleger o irmão Cid Gomes a prefeito. O PT já articulava, maldosa e irresponsavelmente como sempre, a campanha “Fora FHC”. Porém, Ciro fora procurado por um Itamar Franco francamente conspirador para formar um frente anti-FHC. Mas, segundo disse Tasso ao presidente, Ciro não aceitara a tresloucada ideia. Essas divergências e confabulações ocorriam tendo como cenário ainda o PSDB. E Ciro, em determinados momentos até foi complacente com o presidente Fernando Henrique, como quando fez duro discurso de crítica a determinada atitude de Covas e em favor de FHC, durante reunião da cúpula partidária (cf. vol. 1, pág. 792).

É novembro de 1996, segundo ano do governo FHC, e Ciro á está de nariz empinado. Certamente pensando em altos vôos inicia as críticas ao governo do seu correligionário. Depois de entrevista do ex-ministro da Fazenda Ricupero, que FHC lamenta e diz que ele está botando “as manguinhas de fora,” o presidente se volta contra Ciro, que também havia criticado o governo: “Ciro Gomes, então, nem se fala. Abriu o jogo no rádio numa briga com o César Maia (prefeito do Rio de Janeiro, 1993/1996), uma coisa ridícula, atacando o governo, e o César Maia defendendo. É um mundo de malucos e o CIRO GOMES FAZ TUDO ISSO COM O OPORTUNISMO QUE LHE É PRÓPRIO, E COM CERTA LEVIANDADE, QUE NÃO SEI SE VEM DA IDADE OU SE É ALGO MAIS PERSISTENTE NO CARÁTER DELE. É pena, porque ele tem talento.” Com o passar do tempo, como veremos adiante, Ciro Gomes só decaiu no conceito de FHC. Em tempo: os grifos do artigo são meus.

Barros Alves é jornalista, poeta e assessor parlamentar

Foto do Eliomar de Lima

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