
O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.
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Hoje, 6 de maio, é o Dia Nacional da Matemática, escolhido pelos matemáticos brasileiros em homenagem ao escritor Malba Tahan, nascido nessa data no ano de 1895. Que tenho eu a ver com as Ciências Matemáticas? Definitivamente, nada! Até uma simples conta de somar ou multiplicar que eu faça, pode dar resultado bem diferente daquele naturalmente esperado. Minhas ligações com as matemáticas estão postas na medida em que desde os treze anos de idade iniciei um caso de amor com a literatura produzida pelo pedagogo, conferencista, ficcionista, orientalista e matemático Malba Tahan, pseudônimo do professor Júlio César de Melo e Sousa, natural do Rio de Janeiro, e notabilizado pelos livros que escreveu tendo como tema as mais difíceis e empolgantes operações matemáticas. São obras cujas personagens sempre estão transitando no mundo árabe, numa cultura de nós distante, mas que Tahan conhecia como poucos e a trouxe para perto dos leitores brasileiros. Talvez tenha sido, entre nós, o mais importante conhecedor da cultura árabe. E um desvelado amante daquele povo e daquela ambientação tão cara à sua inventividade literária. Ao longo de sua trajetória intelectual, Malba Tahan deixou de ser um pseudônimo para se transformar numa espécie de “alter ego”, o substituto perfeito, com personalidade própria e caráter de feição oriental.
Como dito anteriormente, aos 13 anos de idade, mais precisamente no ano de 1970, quando uma estiagem dos diabos assolava os sertões cearenses, eu tomei conhecimento do livro “O Homem que Calculava”, obra prima do prolífico ficcionista, e o mais popular de quantos escreveu com talento de gênio. Para sobreviver, eu era “cassaco” numa frente de serviço que trabalhava na construção de uma rodovia que liga a Rodovia Governador Faustino de Albuquerque, popularmente conhecida como Estrada do Algodão (CE-060) à cidade de Cedro. Naqueles bons tempos – na juventude todo tempo é bom – não havia esse besteirol de politicamente correto que dá vazão à vagabundagem e impede que menores se submetam à pedagogia do trabalho.
Eu trabalhei duro em vários tipos de atividades, as mais ásperas de exaustivas, onde não há espaço para baratas de apartamento. Mas, apesar das intempéries, sem esquecer da leitura e do estudo. Como eu disse, ainda na pré-adolescência fui “cassaco”, inclusive. Não que kafkianamente tenha havido em mim uma transformação biológica. Cassaco eram assim chamados os trabalhadores braçais, submetidos à dura jornada nas frentes de serviço, sob sol causticante, e cujo instrumento de trabalho eram a chibanca, a enxada, a foice, a alavanca e o pé-de-bode. Portanto, cassaco, alcunha daqueles trabalhadores, foi-lhes certamente dado por analogia ao bicho fedorento, uma espécie de pequeno gambá, pertencente ao grupo de marsupiais, gênero Didelphis, encontrados em quase todas as Américas. Na Bahia chamam-nos sariguê, saruê ou sarigueia; na Amazônia, mucura; na Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, timbu; no agreste pernambucano, em alagoas e no Ceará, o bicho é chamado cassaco.
Pois foi na condição de cassaco que eu conheci Malba Tahan. Como passava a semana na frente de serviço, a cerca de 30 kms da cidade, não descuidei de levar alguns livros para ler nas horas vagas, que não eram muitas. Entre uns livros velhos que minha mãe guardava numa caixa, encontrei o tesouro, uma edição de “O Homem que Calculava”, editora Conquista, 1954, que ainda hoje guardo como inseparável relíquia. Devo ter pensado: - “Ora, se este homem calcula bem, certamente deverei aprender alguma coisa com ele, eu que nada sei de cálculo”. Foi um mistério e um encantamento! Na “frente” passei a cumprir as “empreitas” determinadas pelo feitor, com disposição hercúlea. E trabalhos que antes eu passava oito horas para terminar, depois de conhecer “O Homem que Calculava”, não me custava entregar a missão cumprida em menos de cinco horas. Nesse afã de desenfreada leitura, lá dentro dos matos, numa rede armada nos paus da barraca que abrigava os cassacos, durante cerca de oito meses, devorei as obras de Malba Tahan que estavam à disposição na Biblioteca Pública de Cedro, cujo acervo era de boa qualidade, naquele ano da graça de 1970.
Malba Tahan sempre me deu momentos de alegrias. Há alguns anos fui convidado pelo professor doutor Acelino Pontes, presidente da Academia Cearense de Matemática, para falar sobre o autor de “O Homem que Calculava”, na sessão solene de instalação do sodalício, no Plenário da Assembleia Legislativa do Ceará, repleto de eminentes personalidades das nossas universidades. Tahan é o patrono dos matemáticos brasileiros.
Barros Alves é jornalista, poeta e assessor parlamentar
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