
O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.
O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.
Muitos jovens alunos dos Cursos de Direito, que aprendem a apedrejar a oligarquia aciolina que governou o Ceará entre o final do século XIX e a primeira década do século XX, estudam no Tratado de Direito Internacional Público, de autoria do diplomata e embaixador Hildebrando Accioly. Não sabem os meninos que o autor é filho do grande político cearense Antônio Pinto Nogueira Accioly, um dos mais poderosos na história política do Ceará. Accioly foi deputado (1880), vice-presidente da Província (1884), senador eleito em 1889, mas não tomou posse em face da queda da monarquia; em 1891 foi eleito senador estadual (o poder legislativo do Estado no limiar da República era bicameral); sob a nova ordem foi eleito presidente do Partido Republicano Federalista; vice-presidente do Estado em 1892; presidente do Estado em 1896; em 1900 elegeu Pedro Borges governador do Estado e se elegeu senador da República; retornou ao comando do Estado em 1904, reelegendo-se até 1912 quando foi deposto por movimento popular liderado por seus adversários e substituído pelo Coronel Marcos Franco Rabelo, que se demorou no poder por apenas dois anos, vindo a cair diante da revolta dos caririenses, liderados pelo deputado federal Floro Bartolomeu da Costa, com as bênçãos do Padre Cícero Romão Batista, um dos cinco vice-presidentes do Estado.
A “Guerra de 14” que derrubou Franco Rabelo tem sido objeto de centenas de livros e teses historiográficas. Quero ater-me à importância de Nogueira Accioly como um político que muito amou sua terra natal e ao seu tempo tudo fez para desenvolvê-la e modernizá-la. Os revisionistas da história intentam sempre denegrir os governos acciolinos; a academia o pinta como um homem autoritário e ditatorial. No entanto, Accioly só tem saído mal na fita, porque seus adversários eram quase todos intelectuais, poetas, escritores, jornalistas valorosos e que muito escreveram criticando tudo o que Accioly construiu. Um exemplo são as acerbas e injustas críticas que foram feitas à criação da Faculdade de Direito do Ceará, um benefício ímpar, hoje reconhecido como um marco na história da educação no Ceará. O historiador Raimundo Girão escreve: "A Faculdade mal saía do segundo ano do seu aparecimento é agora enfrentava combate feroz, visada como um dos flancos do objetivo principal, que era a política do Comendador Acióli." Girão constata que a oposição tempesteada só via no governo "uma quadrilha de gatunos e malfeitores." E complementa: "A Faculdade converteu -se em saboroso petisco, a alimentar colunas e colunas dos jornais oposicionistas e, à proporção que novos lentes eram nomeados, aumentava a atoarda dos ridículos." (Cf. "História da Faculdade de Direito do Ceará", edições Imprensa Universitária, 1960, págs 79/80)
De igual modo, as muitas e acerbas críticas feitas pelo poeta Antônio Sales contra tudo o que o governo realizava, como a construção do Teatro José de Alencar, por exemplo, lidas hoje parecem escritas por um político medíocre e despeitado. (Cf. “O Babaquara”, que o líder da Padaria Espiritual e um dos fundadores da Academia Cearense de Letras, escreveu sob o pseudônimo de Martim Soares).
Certa vez entrevistei o escritor Ralph Della Cava, autor do clássico “Milagre em Joaseiro”, sobre o Padre Cícero e o milagre da hóstia que se fez sangue na boca da beata Maria de Araújo Ele me disse que a intenção primeira quando veio para o Ceará era fazer um trabalho sobre a oligarquia acciolina. Logo no início da pesquisa descobriu a figura extraordinária do taumaturgo, amigo de Accioly. Mudou de rumo e se deu bem. O fato, porém, é que Nogueira Accioly deveria ser lembrado com respeito e admiração pelo muito que fez pelo Ceará. Gozou das benesses do poder? Ora, quem não as goza? Uns dizem que não, mas esses não passam de mentirosos e hipócritas. Nos governos de Accioly, entre outras obras de perene importância cite-se a já mencionada Faculdade de Direito, o Teatro José de Alencar, a primeira rede subterrânea de água e esgoto de Fortaleza; as portentosas caixas d’água da Praça da Bandeira, uma obra grandiosa para a época, ainda hoje admirada; a Ponte Metálica, que facilitou sobremodo o embarque e desembarque de mercadorias vindas de outros Estados e de outros países. Não foram poucas as obras feitas pelos governos acciolinos durante os anos em que dirigiu os destinos do Estado.
Monsenhor Quinderé em suas "Reminiscências” (3ª. edição, Edições UFC, 1998, págs. 15 e 16) lembra que o velho Accioly, do seu exílio no Rio de Janeiro, retornou ao Ceará uma única e última vez em 1915. Fez uma visita ao seu ex-correligionário, depois desafeto João Brígido, jornalista polêmico e aguerrido, que estava hemiplégico, prostrado numa cama. Narra o citado memorialista: “O encontro dos dois amigos – o primeiro desde aquele rompimento político em 1903, foi comovente. Acioli debruçou-se sobre o leito para abraçar João Brígido. De repente o valente jornalista diz: - ‘Acioli, você veio fazer política?’ – ‘Não, João Brígido; estamos velhos. A política fica para os filhos e para os netos.’ – ‘Pois, se você, Acioli, reorganizar seu Partido, conte comigo. E seremos tão unidos, como a castanha ao caju.” O icoense Antônio Pinto Nogueira Accioly faleceu pobre, no Rio de Janeiro, a 14 de abril de 1921.
Barros Alves é jornalista, poeta e assessor parlamentar
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