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Artigo - "A maldição do Titanic"
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O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.

Artigo - "A maldição do Titanic"

Com o título "A maldição do Titanic", eis artigo de Valton Miranda, professor e sociólogo. "A curiosidade mórbida está na intimidade da infeliz aventura que levou os cinco ocupantes do pequeno submarino para o fundo do mar, juntando-se ao cemitério da velha sucata. A tríade arrogância, estupidez e curiosidade mórbida integram a desmesura que bloqueia o pensamento", expõ o articulista. Confira:
Tipo Opinião
Valton Miranda (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Valton Miranda

"No creo em brujas, pero que las hay, las hay" (provérbio espanhol). O luxuoso transatlântico Titanic, levando mais de mil passageiros a bordo, naufragou em 1912, nas proximidades de um iceberg. Contrariamente à lenda de que teria se chocado com a montanha de gelo, os pesquisadores afirmam que já partiu do seu porto de origem com princípio de fogo nos depósitos de carvão, coisa que seu comandante achou irrelevante.

O fato é que o aquecimento do casco amoleceu a solda que unia suas duas partes, e o grande navio partiu-se ao meio. Os tripulantes e passageiros que não foram arrastados para o fundo do mar, pereceram de frio nas poucas balsas de socorro. A lenda afirma que muitos operários morreram na sua construção e outros escreveram no seu casco: "Maldito seja".

A maldição é uma das mais antigas estratégias da humanidade para prevenir a violação de cemitérios e tumbas através dos tempos. Os Faraós egípcios construíram pirâmides para sepultar a família real e suas labirínticas passagens continham dizeres que amaldiçoavam qualquer tentativa de penetrar no seu interior.

Os grandes pesquisadores etnólogos e paleontólogos, entretanto, enfrentavam a superstição para fazer descobertas notáveis como foi a Pedra de Roseta que Champollion decifrou. O homem encontrava-se assim entre o tabu e a ciência que finalmente suplantou a superstição mítica. O mito de Gilgamesh, herói, cujas aventuras com seu inseparável companheiro Enquido, foi desmitificado porque numa pirâmide babilônica descobriu-se o sarcófago do herói.

O inconsciente social e individual, entretanto, é povoado pelas legendas como as do herói e da mãe, que Jung denominou de arquétipos. Desse modo é que dentro de cada ser humano habita o sobrenatural que Freud procurou exorcizar em seu magnífico livro "Futuro de uma ilusão".

O desenvolvimento científico com todas as maravilhas que vão do avião à inteligência artificial tornou o homem extremamente arrogante, e como disse F. Nietzsche em seu Nietzsche "agora que Deus está morto, o próprio homem toma seu lugar".

A fama e o ouro já provocaram guerras intermináveis através dos tempos, tanto quanto a crença fanática. O homem é um animal paradoxal, cujo inconsciente individual e coletivo quando acionados, levam à destruição, mas igualmente à amorosidade de Eros. Freud afirma que o impulso destrutivo, tanatos, como a sexualidade desenfreada precisa do controle da civilização. A sabedoria grega afirmava que a hybris alimenta toda sorte de desvario.

A curiosidade mórbida está na intimidade da infeliz aventura que levou os cinco ocupantes do pequeno submarino para o fundo do mar, juntando-se ao cemitério da velha sucata. A tríade arrogância, estupidez e curiosidade mórbida integram a desmesura que bloqueia o pensamento.

Essa compreensão de W. Bion os psicanalistas bem a conhecem, pois sabem o quanto é doloroso pensar. A pulsão de morte afastou a sensatez, tornando a maldição realizada. Freud chamava sua metapsicologia de "a feiticeira", atribuindo à organização dos processos inconscientes, força demoníaca.

*Valton Miranda

Professor e sociólogo.

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