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Artigo - Sobre livros impressos e antigos
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O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.

Artigo - Sobre livros impressos e antigos

"... fico sonhando com a letra impressa no papel, o manuseio, o folhear, o cheiro especial da obra impressa", aponta em artigo o jornalista e poeta Barros Alves
Tipo Opinião
Barros Alves é jornalista e poeta (Foto: MATEUS DANTAS)
Foto: MATEUS DANTAS Barros Alves é jornalista e poeta

Um dia desses me senti encabulado, porque não dizer humilhado, quando entabulei diálogo com o advogado e poeta Soares Feitosa, uma espécie de bibliófilo virtual, pioneiro no uso da internet com objetivos literários, fundador e administrador do site “Jornal de Poesia”, possivelmente o mais completo sítio eletrônico de poetas da língua portuguesa. Feitosa, aficionado dessas mídias modernas, dizia-me que não tinha mais “saco” para ler livros impressos e em se tratando de pesquisar neles, muito menos. Era um deus-nos-acuda de folhear obras e mais obras, algumas antigas, quase intocáveis, o papel a se desmilinguir ao toque dos dedos. O negócio mesmo é digitalizar esses livros velhos para uma leitura mais funcional e/ou uma mais rápida e produtiva consulta.

Soares Feitosa sabe que sou bibliófilo e bibliômano, caçador de livros velhos, farejador de livros impressos, raros, como um cão fareja sua presa. Em nossa conversa, Soares Feitosa não verbalizou seu sentimento em relação a essa minha mania, mas eu senti por trás do seu entusiasmo com o livro eletrônico, que ele ficou doidinho para dizer: - “Barros Alves, não perca tempo com essas velharias, modernize-se, eletronize-se, digitalize-se...” Fiquei encucado, confesso.

Todavia, foi exatamente um livro que me afastou dessa doideira eletrônica do Soares Feitosa. Porque, na verdade, eu comprei um kindle (leitor de livro eletrônico) que me deixou com um certo remorso. Eu começo a ler um livro nesse troço, livro que me custou um preço módico, mas não tenho paciência e, ademais, fico sonhando com a letra impressa no papel, o manuseio, o folhear, o cheiro especial da obra impressa. Vou à livraria e compro o mesmo livro. Portanto, gasto mais do que se não usasse o diabo desse kindle. Então, por acaso, quem veio me salvar do assédio bibliovirtual do Soares Feitosa foi um texto do professor, romancista e pensador cristão C. S. Lewis. Dele possuo quase toda a obra, em bela encadernação, editada pela Thomas Nelson Brasil. Lewis é simplesmente genial! Na obra “Deus no Banco dos Réus” (parte II, cap. 4) o artigo subordina-se ao título “Em Defesa da Leitura de Livros Antigos”, o qual inicia assim: “Circula por aí uma ideia estranha de que livros antigos, sobre qualquer assunto, devem ser lidos apenas por profissionais, e que os amadores devem contentar-se com livros modernos...” A partir daí o autor desenvolve toda uma argumentação sobre a necessidade da leitura de obras antigas, as quais devem ser lidas mesmo antes da leitura de obras modernas.

O argumento de Lewis se prende à defesa da leitura de livros antigos. Até porque na época em que o texto foi escrito não havia os mecanismos eletrônicos que hoje possibilitam a leitura de quaisquer tipos de livros, novos ou velhos, clássicos ou populares. Mas, a argumentação de Lewis me deu novo ânimo para continuar a fazer a defesa do livro impresso. Como diz Lewis, “cada época tem um ponto de vista próprio. Cada uma é especialmente boa em enxergar certas verdades e susceptível a cometer certos erros. Todos nós, portanto, precisamos de livros que corrijam os erros característicos do nosso próprio tempo. E isso significa livros antigos.” E que esses livros sejam impressos, complemento eu.

Lewis diz mais: “Quando leio as controvérsias dos tempos passados, nada me impressiona mais do que o fato de que ambos os lados costumam considerar como ponto pacífico muitas coisas que agora negaríamos completamente.” Espero, portanto, que no futuro Soares Feitosa me dê razão. Porque é certo afirmar que em termos de defesa do livro estamos batalhando do mesmo lado.

Barros Alves é jornalista, poeta e assessor parlamentar

Foto do Eliomar de Lima

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