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50 Anos
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O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.

50 Anos

Com o título "50 Anos", eis artigo de Demétrio Andrade, jornalista e sociólogo, que faz boa reflexão no momento em que completa meio século de ida. Confira:
Tipo Opinião
Demétrio Andrade, jornalista e sociólogo (Foto: Sara Maia, em 21/01/2011) (Foto: SARA MAIA)
Foto: SARA MAIA Demétrio Andrade, jornalista e sociólogo (Foto: Sara Maia, em 21/01/2011)

Uma vez, quando criança, fiz as contas de qual idade iria ter na virada do século (é isso mesmo: sou um homem do século passado). Vi então que teria 31 anos em 2000. Na minha cabeça de menino pensei que já seria um velho. Hoje, depois dos 50, compreendo melhor Aldir Blanc quando ele fala que esta idade pode ser chamada de “bodas de sangue”: um exercício de “insistir na juventude”.

Não confundir com coisas tipo pintar o cabelo ou fazer botox. Invés da lisura plastificada da Suzana Vieira, prefiro a cara honesta do Clint Eastwood: um rosto desenhado pela vida, cada ruga ilustrando histórias, como um mapa repleto de acidentes geográficos, cada um com seus segredos e belezas (aliás, basta assisti-lo atuando em “A Mula” para compreender o real sentido do termo “marcas de expressão”).

Não tem receita de bolo nem livro de autoajuda (dos quais quero distância). Como dizia Nélson Rodrigues, a genialidade cabe no “óbvio ululante”. Aprendi, a duras penas, a cuidar mais de mim mesmo. Beber sempre, mas um pouco menos. Ter a atividade física como necessidade, com o peso e os exames em controle. Estimular o esforço mental: ler, escrever, assistir a bons filmes. Trabalhar pra viver e não o inverso. Manter amigos por perto e a conversa em dia. Cuidar e ser cuidado pela família. Viver a cidade para ser cidadão.

Amadurecer é assimilar suas fraquezas com mais tranquilidade e pedir arrego sem orgulho. Isso significa que aprendi a solicitar ajuda, posto que a autossuficiência é prima carnal do egoísmo. A aceitar melhor as diferenças, bem como enxergar nelas uma das maravilhas da existência nesta confusa horda de seres, mesmo sem abrir mão de convicções que me ajudam a ser eu mesmo. A perdoar mais, a julgar menos, mesmo “sem ter pena de ninguém”, como sugeriu Renato Russo. A errar mais e sem culpa para poder crescer, senão em sapiência, pelo menos em humanidade.

Acho que estou mais propenso a dizer “sim”, ao mesmo tempo em que digo “não” sem muitos grilos. Ainda penso que tenho muito coisa a descobrir, com o olho neste mundo de meu Deus, mas sem desistir de fuçar dentro de mim. Para tanto, tenho de lembrar de manter abertas janelas e portas. Enfim, acho que vivi intensamente alegrias e tristezas e, talvez o mais importante, agradecendo conquistas e pancadas. Não só por isso, sinto-me apto a encarar os próximos 50.

*Demétrio Andrade

Jornalista e sociólogo. 

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