O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.
O jornalista Eliomar de Lima escreve sobre política, economia e assuntos cotidianos na coluna e no Blog que levam seu nome. Responsável por flashes diários na rádio O POVO/CBN e na CBN Cariri.
A revolução cognitiva tornou a espécie humana diferenciada (não melhor tampouco superior!) das demais que habitam esse planeta, porque somos capazes de contar nossa própria história. Criamos linguagens (as ciências) que nos permitem entender os fenômenos naturais em todas as escalas, desde o mundo subatômico, passando pela complexidade da matéria viva, até o espaço intergalático. Não entendemos tudo, mas conhecemos muito. O que sabemos com certeza é que somos extremamente frágeis perante as forças e aos fenômenos naturais; coisas infinitamente pequenas como bactérias e vírus podem ser fatais; um asteroide, mesmo que pequeno, colidindo com a terra pode nos aniquilar facilmente.
E tudo isso que sabemos se deve à ciência, que como outras conquistas importantes da humanidade, é uma construção coletiva que passa pelo crivo do método científico para validar hipóteses. Ela não se submete às crenças e desejos individuais. E por ser construída nesse processo de tese e antítese, ela demanda tempo e revela verdades bem inconvenientes nos diferentes contextos históricos. A simples revelação que a terra não era o centro do sistema solar, custou vidas.
O desenvolvimento científico e tecnológico gerou riquezas, aumentou a expectativa de vida, aumentou a produtividade de alimentos, nos tirou da escuridão das ideias, nos iluminou em várias dimensões. Mesmo assim, é notório e preocupante o crescimento de ataques à ciência, que tem ficado mais visível atualmente porque tem sido feito por algumas lideranças mundiais dos campos político, religioso e empresarial.
O mundo moderno é guiado por decisões políticas que pouco tem levado em conta os alertas emitidos pela ciência. A crise recente do coronavírus colocou de joelho o império que a ignorância e a prepotência da riqueza monetária construíram. Comparando os discursos de algumas autoridades políticas antes do coronavírus e agora com a crise instalada, foi impossível não lembrar da personagem Geni (eles parecem enxergar a ciência dessa perspectiva) retratada na composição de Chico Buarque. Repentinamente, aqueles que cospem, ignoram a ridicularizam a ciência passam a pedir socorro e ficar na esperança que a mesma desenvolva (o mais rápido possível) remédios e vacinas. O presidente dos Estados Unidos que alguns anos atrás levantou dúvidas sobre as vacinas, essa semana pediu que a comunidade científica acelere o desenvolvimento da vacina para prevenir infecções com o coronavírus.
Diferente dos produtos da ignorância que são produzidos intensa e rapidamente nos discursos, a vacina, um produto da ciência, precisa de base científica, e de tempo. E a ciência vai conseguir fazer mais cedo ou mais tarde por um motivo: a comunidade científica construiu conhecimento básico (que alguns ignorantes rotulam de estudos sem utilidade e usam esse argumento para cortar investimentos!) de bioquímica e imunologia que está nos milhares de artigos científicos e livros da área.
Diante dessa crise, é oportuno uma pergunta. Se um vírus é capaz de colocar o mundo de joelhos, podemos imaginar o que as forças da natureza tais como enchentes, secas, furacões, ... farão conosco? As vozes ignorantes e/ou poderosas do mundo em vez de atacar a ciência, deveriam apoiá-la, porque é dela que vem as principais estratégias para superar as crises epidemiológicas.
Não esqueçamos uma das importantes lições que a ciência nos deu, a de que a natureza é viva, extremamente complexa e que ela tem uma força vital que a raça humana não controla; apenas construímos um entendimento que em princípio deveria estar a serviço da melhor convivência possível entre a sociedade e o ambiente. As leis da natureza não podem ser revogadas por decretos e resoluções de humanos poderosos reunidos. Escutem e apoiem a ciência! A “Geni” já nos socorreu em algumas crises; e em outras de maior amplitude, como a crise ambiental que se avizinha, não adianta chamá-la, ela não poderá fazer muito, nem mesmo fugir no zepelin com seu “comandante”. Iremos todos juntos viver as amarguras dos cenários previstos!
Antonio Gomes Souza Filho é professor da Universidade Federal do Ceará
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