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A invisibilidade da escravidão moderna
Eliziane Colares

A invisibilidade da escravidão moderna

Dados da Organização Mundial do Trabalho indicam que, em 2017, cerca de 40 milhões de pessoas encontravam-se em situação de trabalho análogo à escravidão em todo o mundo
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Consegue imaginar passar 72 anos da sua vida em situação de escravidão? Esse é o caso real de uma senhora resgatada este ano no Rio de Janeiro, que vivia em situação análoga à escravidão. O que mais choca é que casos como esse não são raros como deveriam ser. No último 13 de maio, aniversário da Lei Áurea, a Auditoria Fiscal do Trabalho divulgou que somente este ano, já tivemos cerca de 500 pessoas resgatadas em trabalho análogo à escravidão no Brasil. No ano passado, foram 1937 casos.

Não se trata de um problema só do Brasil. Dados da Organização Mundial do Trabalho indicam que, em 2017, cerca de 40 milhões de pessoas encontravam-se em situação de trabalho análogo à escravidão em todo o mundo.

A legislação brasileira entende que o trabalho escravo ocorre quando há situações como: trabalho forçado, cerceamento da liberdade de desligamento, ameaças físicas e psicológicas, espancamentos, isolamento, dependência por dívidas que o trabalhador nunca consegue pagar, condições degradantes de trabalho com risco à saúde ou jornadas exaustivas.

Aqui no Brasil, a grande maioria dos casos acontecem em fazendas em áreas rurais. Há casos também na quarteirização de serviços de confecções. Grandes marcas se beneficiam de cadeias de produção e terceirizam serviços para baratear os custos, sem fiscalizar a execução. No Brasil, a legislação prevê confisco de terras e propriedades urbanas onde o trabalho escravo for encontrado, porém ainda há muita impunidade e muito lobby político para redução de direitos trabalhistas e desmonte das estruturas de fiscalização. Porém, as empresas autuadas entram para a lista suja do trabalho escravo.

Por trás dessa realidade sombria estão as mesmas bases econômicas que sustentaram a escravidão no nosso país por mais de 350 anos: aumentar o lucro com a redução dos custos de mão-de-obra, mesmo que seja necessário espoliar a dignidade humana. Quando essa lógica se encontra com a fome, a pobreza, a desigualdade social, a impunidade e o desinteresse da sociedade, temos as condições perfeitas para nos desumanizar. 

 

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