
Eliziane Colares é publicitária e diretora da Advance Comunicação
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O povo Xokleng foi quase dizimado em Santa Catarina no início do século passado. O bugreiro Ireno Pinheiro contou sua história no livro "Os Índios Xokleng - Memória Visual", publicado em 1997 pelo antropólogo Silvio Coelho dos Santos. Bugreiros eram matadores dos "bugres" - como chamavam de forma pejorativa os indígenas. O par de orelhas era a prova para receber sua remuneração.
Desde que fomos invadidos pelos portugueses, nossa história tem sido marcada por uma guerra crônica pela terra. Dos portugueses, passando pelas expedições bandeirantes, bugreiros, coronéis dos latifúndios, posseiros, pistoleiros, madeireiros, garimpeiros e grileiros, são incontáveis os crimes contra indígenas, muitas vezes, patrocinado ou com conivência do Estado.
O povo Krenak foi expulso pela ditadura militar de suas terras sagradas, em benefício de posseiros. Foram confinados, proibidos de praticar sua cultura, submetidos a trabalho forçado, estupros e tortura - uma foto da época registrou em praça pública de Belo Horizonte militares carregando um indígena num pau-de-arara.
Em 1960, o Mato Grosso foi palco do genocídio que ficou conhecido como Massacre do Paralelo 11, no qual cerca de 3.500 indígenas Cinta-Larga foram envenenados por arsênio colocado em alimentos doados pelo Serviço de Proteção ao Índio e fazendeiros.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário - CIMI, em 2021, há registros de 305 invasões a terras indígenas, um crescimento de mais de 200%. E acabamos de assistir o terror vivido pelos Yanomamis.
O Marco Temporal recém-aprovado na Câmara dos Deputados é mais uma ameaça aos indígenas no Brasil. E nos faz refletir sobre o marco originário, no qual todas as terras pertenciam aos povos indígenas. Cada pedaço de terra do Brasil, em algum momento lá atrás, foi tomado, seja pelo poder público ou por pessoas comuns que se apossaram de forma ilegal. Senado e STF têm a chance de estancar essa sangria. E nós, que vivemos nas bolhas urbanas, temos o dever de cobrar das autoridades a reparação da dívida histórica com nossos povos originários e fazer valer nossa crença que somos um povo civilizado. n
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