
Eliziane Alencar é publicitária e diretora da Advance Comunicação
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Mais de 80% das áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia foram ocupadas com pasto para exploração de gado. A previsão é que a pecuária ainda pode levar à derrubada de mais 3 milhões de hectares entre 2023 e 2025. Isso equivale a mais de 20 vezes a cidade de São Paulo. Os dados são do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - Imazon.
Hoje, somos um país com mais habitantes bovinos do que humanos, o que amplia o prejuízo ambiental com poluição das águas por dejetos dos animais, compactação do solo, emissão de gases metano e óxido nitroso e uma altíssima pegada hídrica - quase 70% de toda a água doce usada pela humanidade é destinada à pecuária.
O desmatamento destrói a biodiversidade, traz risco de desertificação, mata animais silvestres, ameaça indígenas e quilombolas e compromete os "rios voadores", que transportam umidade da floresta para outras regiões do Brasil. Sem florestas não há água, nem restauração de ecossistemas e enfrentaremos cada vez mais extremos climáticos de temperaturas, enchentes e secas. No final, ao comprarem carnes do Brasil, outros países transferem para a população brasileira o prejuízo social e ambiental.
Grifes como Chanel, Balenciaga e Gucci são citadas no relatório "O preço oculto do luxo: o que as bolsas de grife da Europa estão custando à Floresta Amazônica", da ONG inglesa Earthsight, em colaboração com a Repórter Brasil. As investigações revelaram como marcas de luxo europeias estão utilizando couro proveniente de gado criado em áreas desmatadas ilegalmente e em terras indígenas, como a Terra Indígena Apyterewa, no Pará.
O Congresso aprovou o Projeto de Lei 2.159/2021, que permite que empresas concedam sua própria licença para atividades que geram riscos ambientais e sociais. Um retrocesso em um momento em que o planeta sofre com uma crise climática sem precedentes, com riscos de pontos de não retorno e que o próprio Brasil tem sofrido com desmatamento e desastres ambientais severos. O "PL da Devastação" foi aprovado sem debate e sem ouvir a sociedade brasileira, que agora pressiona o presidente Lula pelo veto.
Pegando carona na proibição de exportação de animais vivos de países como Nova Zelândia e Egito, em 2024, o Brasil exportou quase 1 milhão de bovinos vivos e vem conquistando a liderança do comércio marítimo global em uma das atividades pecuárias que mais geram sofrimento animal. A prática também se beneficia dos incentivos fiscais de exportação da Lei Kandir. Diversas instituições de proteção animal têm atuado na justiça para proibir essa cruel prática no Brasil, mas enfrentam resistência do próprio Governo Federal.
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