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O braço armado para garantir a fé
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Professor adjunto de Teoria Política (Uece/Facedi), professor permanente do programa pós-graduação em Políticas Públicas (Uece) e professor permanente do programa de pós-graduação em Sociologia (Uece)

O braço armado para garantir a fé

Reuniões dentro de templos e projetos voltados às forças de segurança têm sido noticiadas. Para além disso, a retórica da guerra, da tropa, do exército e das armas configuram constante em hinos, vestimentas e pregações
Deputado estadual Apóstolo Luiz Henrique (Republicanos) (Foto: JÚLIO CAESAR/O POVO)
Foto: JÚLIO CAESAR/O POVO Deputado estadual Apóstolo Luiz Henrique (Republicanos)

A busca pela legitimação cada vez mais ampliada da presença pública das religiões, com destaque para as denominações evangélicas com representação no Poder Legislativo, tem assumido diversas facetas. A política, por óbvio, tem sido a mais estridente, antecedida pela presença, hoje quase hegemônica, em emissoras de rádio e de tv. Já chegaram às novelas e aos musicais da TV Globo.

Contudo, vai tomando forma uma outra via de legitimação: a da relação aberta com órgãos de segurança pública. Reuniões dentro de templos e projetos voltados às forças de segurança, executados por diversas instituições, têm sido noticiadas nos últimos anos. Para além disso, a retórica da guerra, da tropa, do exército e das armas configuram uma constante em hinos, vestimentas e pregações.

No Ceará, ao menos três projetos legislativos destacam-se por contemplarem essa relação igrejas-forças de segurança. Tendo como autor o deputado estadual Luiz Henrique (REP), os projetos de lei 379/2025 e 388/2025 buscam: promover a cultura de paz a partir dos princípios da fé cristã, valorizando a atuação de igrejas e projetos missionários, apoiando iniciativas de acolhimento espiritual e garantindo a livre atuação religiosa em territórios conflagrados pela ação do crime organizado, facilitando o acesso das igrejas cristãs às políticas públicas de segurança cidadã e respondendo prioritariamente a denúncias oriundas das instituições religiosas.

Por sua vez, o projeto de indicação 974/2025, de autoria do vereador Jânio Henrique (PDT), solicita a “criação de Áreas Especiais de segurança no entorno de templos religiosos”. Uma nova modalidade de segurança pública: aquela garantida à segurança dos templos cristãos, que requer, segundo o texto, “presença de guardas municipais ou apoio da polícia Militar”, “instalação de câmeras de videomonitoramento”, “sinalização indicativa de área monitorada e protegida”.

Um conjunto de privilégios que nem mesmo escolas, unidades de saúde e residências dos cidadãos em geral sonham, um dia, possuir. Prioridade até para denúncias oriundas de igrejas. Uma nova cidadania, produzindo uma casta de “protegidos” pelo braço armado do estado. Subvenção às igrejas. Não será isso inconstitucional?

 

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