Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A pandemia de Covid-19 mudou a agenda eleitoral do planeta - e Fortaleza é parte disso. O debate que pautará a campanha será o novo coronavírus. As estratégias de enfrentamento à doença, a política de isolamento, o uso de medicamentos, o impacto econômico, os números de casos e mortes, os gastos durante o período de exceção, quanto foi pago por respiradores, denúncias de superfaturamento… Essa será a discussão na eleição municipal de Fortaleza e, com nuances, será o debate no Brasil inteiro. Nos municípios do Interior também. Vai ser o assunto. Mas, no Ceará, não será só isso. Sobretudo em Fortaleza, a violência será um debate intenso, por várias razões. Pelo aumento da criminalidade, por facções estarem se rearmando, por tudo isso ocorrer na sequência do motim da Polícia Militar e por Capitão Wagner ser o principal candidato de oposição. Pandemia e violência se entrelaçarão na eleição.
A campanha em Fortaleza terá nuances, portanto, bem próprias. Isso ocorrerá em várias outras cidades, como em qualquer eleição municipal. A questão é que, desta vez, tanto a pandemia quanto a instabilidade na segurança pública são discussões que não estavam no script pré-traçado. A violência até estava no horizonte de uma campanha com Capitão Wagner, mas o tom seria um até fevereiro. Passou a ser outro após a PM parar em fevereiro. E já mudou com os recentes episódios de violência, a tentativa de ofensiva de facções. E sabe-se lá quais os desdobramentos.
Na base do prefeito, por exemplo, o plano era já ter cumprido intensa agenda de inaugurações, lançando luz sobre Samuel Dias (PDT). As obras tiveram de parar e Samuel precisou se desincompatibilizar. O discurso que vinha sendo construído era o da competência para seguir em frente, do perfil tocador de obras. Isso estará presente, mas não será a pauta de uma campanha. Não uma que saia vencedora.
Governo e oposição terão de adaptar seus discursos. Não dá para seguir os roteiros planejados lá atrás. Daqui a dois meses está previsto que a campanha esteja na rua - apesar da considerável probabilidade de adiamento. É tempo para ainda mudar muita coisa até lá.
Disputa sobre a interpretação da pandemia
Em relação à Covid-19, está em curso uma disputa pela interpretação da pandemia. Esse debate não se dá mais em quase lugar nenhum do mundo. É superado em quase todo lugar. Mas, aqui arde em fogo alto.
Uma coisa é certa, ambiguidade não é bem recebida. Candidatos terão de ser claros em suas posições sobre o enfrentamento ao coronavírus e arcar com o ônus de assumir um lado.
Fator Bolsonaro
Da parte do grupo Ferreira Gomes, há clara estratégia de associar Capitão Wagner ao presidente Jair Bolsonaro. É uma aliança possível, até provável hoje, mas não confirmada.
Em geral, candidatos brigam pelo apoio da Presidência da República. Bolsonaro tem muitos apoiadores em Fortaleza. Mas, na base governista local parece haver a compreensão de que ele mais atrapalha que ajuda.
O discurso formal e a guerrilha subterrânea
Existem duas campanhas - a oficial e a subterrânea. Nos canais oficiais, o enfrentamento é mantido sob relativo controle. Mas, nas redes sociais, no WhatsApp o bicho vai pegar. Denúncias sobre a pandemia, acusações de formação de milícias, assuntos que já frequentam áreas de comentários de notícias irão ser muito difundidos. A campanha de 2018 definiu novos marcos no uso dessas ferramentas. As eleições municipais serão terreno fértil para esse novo e triste formato de campanha. Tapem os narizes.
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