Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Na tímida defesa dos aliados de Jair Bolsonaro, surge o argumento de que o crime atribuído a Fabrício Queiroz é pequeno, irrelevante. E algo que "todo mundo faz". De fato, não é um grande esquema criminoso. É a fraudezinha típica de políticos do baixo clero. Afinal, a família Bolsonaro - e seus assessores, portanto - não tinha até 2018 acesso a grandes orçamentos, a gordos contratos, a grandes fluxos de caixa. Não estou dizendo que, se tivessem, cometeriam desvios de proporção semelhante. Nem que tenham cometido há um ano e meio com acesso a esses meios. Não tenho elemento para afirmar isso. O que estou dizendo é que, como grupo político de baixo clero e sem grandes cargos, a irregularidade em que auxiliares poderiam se envolver até então eram mesmo esses pequenos esquemas.
Todo mundo faz? Não é verdade. Mas muita gente faz, sim. Na Câmara Municipal de Fortaleza, os então vereadores Leonelzinho Alencar e Antônio Farias de Sousa, o chamado A Onde É, foram acusados da mesma prática. A Onde É chegou a ser preso. Os dois renunciaram para não serem cassados. Na Assembleia Legislativa do Ceará, a então deputada Iris Tavares foi acusada da mesma coisa, respondeu a processo de cassação, mas escapou.
É o tipo de esquema pequeno em volume de dinheiro, quando se compara às fraudes bilionárias. Mas é o tipo de desvio pequeno e disseminado. Ocorre em gabinetes de vereadores e deputados pelo País. Espalha-se e compõe não apenas uma grande teia de apropriação de recursos públicos. Um conjunto que, somado, dá muito dinheiro, sim. As chamadas "rachadinhas" provocam algo pior: a naturalização das fraudes. O discurso de que não é nada demais. Que é normal. E assim se constrói a cultura de corrupção.
A investigação do mensalão começou com o flagrante de propina nos Correios de R$ 3 mil. Disseram que o valor era pouco. O caso evoluiu e falou-se que dinheiro era caixa dois. Algo que "tudo mundo faz."
Em que consiste o esquema
Cada parlamentar tem cotas para contratar assessores. A fraude consiste na combinação para que seja retida parte do dinheiro a ser pago ao assessor. É dinheiro público, destinado a contratar um funcionário público que prestará um serviço público a um detentor do mandato eletivo. Em alguns casos, o funcionário topa trabalhar por menos do que seria correto. Em outros, a combinação consiste em apenas constar o nome da pessoa, que não teria de trabalhar. O chamado funcionário fantasma. É desvio de dinheiro público para favorecimento do autor da fraude. Prejudica o trabalhador que recebe menos, ou a população que deixa de ter serviço prestado por alguém cujo salário está pagando. Ou as duas coisas juntas.
O que afeta a família Bolsonaro
As investigações apontam que Queiroz pagou contas particulares - ao longo de seis anos - de Flávio Bolsonaro. Não houve saques nas contas do senador suficientes para cobrir esses gastos. Ano passado, Flávio disse que não sabia da apropriação de dinheiro de outros funcionários por Queiroz. Vai ver também não reparou que seus boletos estavam sendo pagos por alguém. Ao longo de seis anos, será que ele não estranhou?
Por que Bolsonaro abraça Queiroz
Comentei ontem que o presidente Jair Bolsonaro assumiu certa defesa de Queiroz. Não era a postura adotada antes por Flávio, que dizia ter talvez confiado indevidamente no ex-assessor. Não era a postura esperada de um presidente da República, sair em defesa de quem acabou de ser preso. Por que Bolsonaro faz isso?
Uma hipótese é eles acreditarem na inocência de um assessor que foi tão próximo.
E outra é que talvez seja pior abandonar Queiroz. Mas isso apenas se Queiroz não for o chefe do esquema. E souber de coisas capazes de complicar o chefe de fato. É apenas outra hipótese.
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