Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Jair Bolsonaro visita hoje o Ceará pela primeira vez como presidente. Não é novidade desde a campanha, a região Nordeste é onde ele tem pior avaliação. Divulgada ontem, pesquisa do DataPoder360 mostrou que ele tem 59% de reprovação na região e 30% de aprovação. Na média nacional, tem 49% de reprovação e 41% de aprovação. Na região onde está melhor, o Centro-Oeste, tem reprovação de 39% e a aprovação vai a 52%. O Ceará é caso particularmente complicado para o bolsonarismo, pois é governado pelo PT e tem hegemonia política do grupo Ferreira Gomes. Foi o único estado onde, em 2018, Bolsonaro não ficou nem na segunda colocação. Em terceiro, o hoje presidente nem teria ido ao segundo turno em 2018 se dependesse só dos cearenses. É esse o estado a receber hoje Bolsonaro como presidente pela primeira vez.
Bolsonaro estará na cerimônia de chegada das águas da transposição do rio São Francisco. É um momento histórico. A obra remete às promessas não cumpridas do imperador dom Pedro II e foi prometida pelos cinco presidentes que antecederam Bolsonaro. É o oitavo mandato presidencial pelo qual a obra passa.
O fato é que a água só chegar agora ao Ceará é uma vergonha que também atravessa vários governos. A obra foi prometida por Itamar Franco (1992-1994). Na campanha de 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) renegou e depois abraçou a obra. Disse que faria em 1996. Em 1998, logo antes de se lançar à reeleição, FHC prometeu de novo a transposição. Depois de oito anos, saiu sem nem começar as obras.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) administrou a polêmica sobre obra e não se comprometeu em campanha. Os formuladores de sua área de meio ambiente eram contra. Mas, quando Ciro Gomes virou ministro da Integração Nacional, a transposição foi para a agenda. Foram quatro anos de formulação do projeto, polêmicas, greve de fome de bispo, licenciamento enrolado, licitação. A obra começou em junho de 2007, quando Ciro já não era mais ministro havia mais de um ano. De todo modo, ele teve o mérito de desatar os nós burocráticos. Haveria muitos outros pela frente.
A previsão inicial para a primeira etapa era 2010. Dez anos atrás, na edição de 8 de junho, Lula foi entrevistado pelo O POVO e questionado sobre a crítica de Tasso Jereissati (PSDB) à ausência de grandes obras no Ceará. O petista respondeu: "Os descrentes, que quando governaram não realizaram obras significativas, ainda beberão no Ceará da água que chegará ao Estado, graças à transposição do São Francisco, e andarão nos trens da ferrovia Transnordestina. O pior cego é aquele que não quer ver".
Sem Lula e provavelmente sem Tasso, quem receberá a água será Bolsonaro. Antes, ele sobrevoará as obras da Transnordestina - essas ainda bem longe do fim.
Idas e vindas no BNB expõem governo bagunçado
Por mais simpatizante que você seja de Jair Bolsonaro, há de convir que os movimentos no comando do Banco do Nordeste (BNB) expõem a bagunça no governo. Romildo Rolim foi demitido no começo do mês, o substituto entrou, foi demitido no dia seguinte por causa de denúncias que eram antigas. Parece que ninguém no governo jogou o nome do novo escolhido no Google antes de entregar a ele cargo tão importante e que mexe com tanto dinheiro. Antes do fim do mês, o antigo presidente, demitido no começo do mês, foi nomeado de novo.
A questão é: se Romildo é bem avaliado, a ponto de voltar agora, por que havia sido demitido? Só a politicagem explica. Aquela que Bolsonaro prometeu lá atrás que não faria.
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