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Inexperiência contra o poste: um tom da campanha em Fortaleza
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Inexperiência contra o poste: um tom da campanha em Fortaleza

Tipo Opinião
Discurso de RC deu tom que será usado na campanha (Foto: REPRODUÇÃO)
Foto: REPRODUÇÃO Discurso de RC deu tom que será usado na campanha

A base governista não tem candidato, mas já trata publicamente da campanha. Foi adiado de hoje para amanhã o início da série de discussões. Não há um nome, mas começa a surgir um discurso. Roberto Cláudio (PDT) deu o tom na última sexta-feira, 17, ao anunciar como seria o processo de escolha do candidato.

Falou de discutir ideias, propostas para a Cidade. Candidaturas de situação costumam tentar dar um tom propositivo. Numa campanha agressiva, de ataques e denúncias, quem é governo vira vidraça e tem mais a perder.

Ocorre que qualquer das cinco alternativas do PDT largará atrás. Não apenas do Capitão Wagner (Pros). Salvo uma surpresa, as primeiras pesquisas deverão trazer o candidato pedetista atrás de Luizianne Lins (PT), de Heitor Férrer (Solidariedade), provavelmente de Renato Roseno (Psol).

Se fizer uma campanha de musiquinha, abraçar criança, comer pastel na feira e dar tchauzinho em carreata, a candidatura tem grande chance de naufragar. Por isso, ainda sem candidato, o próprio prefeito já sinalizou o enfrentamento que será travado na campanha.

Ataque à inexperiência e intolerância

Na sexta-feira, o prefeito afirmou que o debate em Fortaleza está conectado ao que ocorre no Brasil. E afirmou que o PDT será negação ou contraponto a "valores, sentimentos e ideias que eu julgo perigosas e ineficientes". Um dos pontos foi a inexperiência de governar. Salientou também intolerância com divergências.

"Quem perde tempo com futrica, com ódio, com disputa alimentando o palanque não consegue trabalhar para o povo. Quem simpatiza ou quem relativiza a milícia, quem desrespeita a opinião contrária, quem não convive com decência, dignidade e até leveza com a opinião do outro não tem capacidade de governar uma cidade como Fortaleza que é, graças a Deus, vanguardista, progressista e que valoriza o bom debate."

O alvo do prefeito é o bolsonarismo - e o grupo Ferreira Gomes aposta que Wagner estará aliado ao presidente Jair Bolsonaro. Ele atrela Wagner a essas características. Em particular, enfatiza a inexperiência.

Chama atenção o uso da palavra milícia. Muito se fala das milícias virtuais, agressivas nos debates, os "gabinetes do ódio". Mas os Ferreira Gomes já fizeram acusações de vínculo entre Wagner e milícias - as reais mesmo. Ciro Gomes chegou a ser condenado, inclusive. Roberto Cláudio falou de forma vaga e genérica. Não me pareceu ter sido acaso.

O "poste" governista

O discurso do Capitão Wagner já vem de mais tempo e está mais claro. Vem ganhando novos contornos. Por exemplo, com a pandemia de coronavírus, ele sistematicamente denuncia irregularidades em compras de respiradores e outros gastos emergenciais.

Mais que as críticas a ações sistemáticas de governo, ele tem apontado problemas em ações específicas e gastos que considera suspeitos ou inadequados. Ele tem batido no desperdício. Outra crítica é ao que considera perseguição a empreendedores.

Em janeiro, em entrevista ao jornalista Carlos Holanda, aqui do O POVO, ele deu indicativo da principal crítica política que pode fazer à base governista. "Não quero debater com poste", ele afirmou. Ou seja, uma crítica a adversários supostamente inexpressivos, cuja força estaria nos caciques que os apoiam.

É curioso, porque esse foi um dos debates da campanha que levou Roberto Cláudio ao poder, em 2012. Heitor Férrer, por exemplo, foi o terceiro candidato e cresceu ao enfatizar que não era nem o candidato da prefeita nem do governador. Mas foram os dois que disputaram o segundo turno.

No momento decisivo da campanha, a propaganda de Roberto Cláudio deixou de ir ao ar em meio a disputa judicial. Obteve recurso que lhe garantiram 10 minutos de inserções em rádio e televisão, distribuídas em pequenos blocos ao longo da programação.

O tempo foi usado para veiculação em massa de entrevista da então prefeita Luizianne Lins (PT) dizendo que estava pronta para eleger até um poste. O efeito foi devastador. Oito anos depois, o candidato de Roberto Cláudio provavelmente enfrentará o discurso que ajudou a eleger o apoiador.

 

Foto do Érico Firmo

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