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Termina a gestão mais atribulada da história da segurança
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Termina a gestão mais atribulada da história da segurança

Tipo Opinião
André Costa: ex-SSPDS (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita André Costa: ex-SSPDS

O que desejo ao novo secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará é que tenha uma gestão mais tranquila do que foi a de André Costa. Que seja um período de paz e serenidade para o Estado. Tudo que não foi a passagem de André Costa pela SSPDS. Não por culpa dele - ao menos não apenas.

Está se perguntando se foi mesmo a mais conturbada? Justifico minha tese: 1) Teve o ano com mais mortes violentas da história do Estado (2017). 2) Teve o segundo ano mais violento (2018). 3) A maior onda de ataques da história do Estado (janeiro/2019). 4) A maior chacina da história do Estado (Forró do Gago, 2018). 5) A tragédia de Milagres, com seis reféns mortos numa ação para evitar assaltos a bancos. 6) O mais prolongado motim da história da Polícia.

André Costa substituiu Delci Teixeira em 2017. O Estado vinha de dois anos de redução dos homicídios, mas estourou no colo dele o fim da trégua entre facções criminosas. A violência explodiu. Porém, a partir de 2019, justamente em meio à onda de ataques e em trabalho conjunto com o secretário da Administração Penitenciária, Mauro Albuquerque, atingiu-se o alicerce das facções. O resultado: 2019 teve a maior queda dos homicídios já medida no Ceará. Redução em bases mais sólidas que a que Delci havia obtido.

A chegada de Costa foi marcada pela tentativa de ganhar a confiança de uma Polícia que vinha desgastada com a SSPDS. Conseguiu isso ao assumir posições polêmicas e ofensivas aos direitos humanos. Falava aos criminosos para escolherem entre "Justiça ou cemitério". Ia pessoalmente a operações, era secretário de ação. Adorava criar polêmicas em redes sociais.

Ao longo da gestão, Costa tornou-se gradualmente mais discreto. Coincidência ou não, os números foram melhorando. Até que veio 2020. O motim da Polícia Militar desorganizou a segurança. Entre janeiro e julho, os homicídios já superam 2019 inteiro. Há crescimento de 95% em relação aos primeiros sete meses do ano anterior. Costa, que havia conquistado a tropa ao chegar, saiu enfraquecido. Os bons resultados que tinha conseguido alcançar parecem ter se perdido.

 

Segurança e eleições

Quando André Costa entrou na SSPDS, Camilo Santana disse que queria uma pessoa mais de ação. O antecessor, Delci Teixeira, era um formulador, visto como homem de gabinete. Costa é mais jovem e é voltado para o operacional, como se diz. Costa era visto como certo contraponto ao Capitão Wagner (Pros). Fez gestos em direção às corporações, para defender policiais, e ganhou apoio. Hoje não parece mais sustentar essa popularidade.

É significativa a troca no comando da segurança às vésperas de uma campanha municipal em Fortaleza que terá um candidato que vem dessa área. Não sei se tanto no debate explícito, mas certamente no imaginário do eleitor a violência será uma das questões da campanha. É também significativo que esteja de saída agora o secretário que foi o contraponto a Wagner, o candidato de oposição.

Outro Ceará

Sandro Caron, novo secretário, foi superintendente da Polícia Federal no Ceará entre 2011 e 2013. Estava no cargo na época em que o Capitão Wagner comandou o motim entre 2011 e 2012. Viu os números da segurança piorarem dramaticamente a partir dali.

A realidade da segurança no Ceará que ele conheceu era outra. Àquela altura, pouco se falava de facções criminosas no Ceará. Atribuía-se a violência basicamente à venda e consumo de crack. A tese já parecia equivocada na época e hoje o erro de interpretação claramente contribuiu para a situação à qual se chegou.

O Ceará que ele reencontra teve algumas dezenas de chacinas, ciclos de ataques e tem territórios divididos entre facções.

 

Foto do Érico Firmo

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