O presidente Jair Bolsonaro repete frequentemente que a responsabilidade por medidas de saúde contra a Covid-19 é dos prefeitos e governadores, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Não é verdade. O que o STF decidiu é que há competência concorrente entre União, estados e municípios (leia a explicação do site do STF). Que o Governo Federal não pode atropelar prefeitos e governadores. Decidiu isso. (Aqui você pode ver toda a tramitação e os documentos do STF acerca do caso). E Bolsonaro queria atropelar. A lógica de Bolsonaro é a do mandonismo, do murro na mesa, de ganhar no grito. Governar é, ou deve ser, muito mais que mandar. É articular, negociar, construir alternativas.

O Brasil já teve outras epidemias: varíola, cólera, gripe espanhola, febre amarelo, sarampo, meningite, dengue, H1N1... Por que essa questão nunca tinha ido parar no Supremo? Essa divergência sobre quem manda? Porque até hoje nunca tinha havido tamanho conflito entre entes federativos na hora de combater uma doença.

Pois bem, Bolsonaro repete que apenas poderia enviar recursos. Não é verdade. Mas, vem cá. Alguém, sabe  alguma medida de saúde, para salvar vidas, que Bolsonaro quis tomar e não conseguiu? O uso da cloroquina, ele trocou ministro da Saúde até o protocolo ser alterado - sem médico assinar. O que eu sei que o STF o impediu de fazer foi mandar reabrir o que estados e municípios determinassem que fechasse. Não era por saúde, era por economia. Nem vou enveredar para o debate da economia ou saúde. O que interessa para a discussão que faço aqui é que não era algo para tratar pacientes de Covid-19, para prevenir contágios.

Porém, Bolsonaro vai além. Ele chega a atrapalhar quanto pode ações de combate à pandemia de Covid-19. Recorrente e repetidamente.

Em março, o Governo do Ceará foi à Justiça para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permitisse a realização de barreira sanitária de passageiros que chegavam ao aeroporto de Fortaleza, e para que colaborasse com o Estado e a Prefeitura. Obteve decisão favorável e - pasme - a Anvisa recorreu para não haver triagem de passageiros que desembarcavam. Perdeu. O fato é que a triagem demorou a começar. Era o mês dos primeiros casos no Ceará. Quantos casos não poderiam ter sido evitados no nascedouro se houvesse uma rigorosa barreira sanitária nos aeroportos - que são responsabilidade federal?

Agora, a mesma Anvisa de guerra nega pedido do Governo do Ceará para testar para Covid-19 passageiros que chegarem ao Ceará em voos internacionais dentro do Aeroporto Internacional de Fortaleza. Em nota enviada ao O POVO, a Anvisa disse que não recomenda "a realização de testes para Covid-19 dentro das instalações aeroportuárias".

Isso num momento em que a Europa enfrenta aumento de casos e retomada de restrições. Francamente, a quem interessa não fazer os testes? Interessa aos passageiros? Se fosse eu, gostaria de ser testado. Interessa aos fortalezenses? Definitivamente não.

Agora, o Governo do Ceará pede que os passageiros façam os testes antes de vir ao Brasil. Veremos o que diz a dileta agência federal.