Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
De forma previsível e inevitável, a operação da Polícia Federal sobre suspeitas de corrupção no hospital de campanha instalado no estádio Presidente Vargas se tornou a principal matéria-prima das campanhas de oposição em Fortaleza. Notadamente, Capitão Wagner (Pros), mas também Luizianne Lins (PT). É pelo menos a terceira grande operação da PF durante o período eleitoral em Fortaleza. Em setembro, no meio das convenções, o alvo foi o Pros, partido do Capitão Wagner. Em outubro, a operação mirou liberações de créditos da época do governo Cid Gomes (PDT) para a JBS, supostamente em troca de doações eleitorais e outros favorecimentos indevidos. Novembro começa com a operação sobre o hospital do PV.
Como escrevi ontem, não é o caso de a Polícia Federal deixar de fazer operações por causa da eleição. Seria uma forma de contaminação política. As operações devem ocorrer quando têm que ocorrer. Porém, o período eleitoral leva a questionamentos. Funciona até como escudo para os alvos. Tão óbvia quanto a exploração pelos opositores é a acusação da parte dos alvos de que são vítimas de ação política. E é natural, sobretudo depois que o ex-ministro Sergio Moro saiu acusando o presidente Jair Bolsonaro de intervir na PF. E depois dos diálogos - jamais negados - divulgados por The Intercept do próprio Moro, indicando cálculo político na deflagração das operações.
Quem bem apontou o problema foi o colega Carlos Holanda, no episódio desta semana do podcast Jogo Político. Falta transparência. A PF faz uma operação dessas e ninguém sabe quem exatamente foi alvo, por que foi deflagrada. Não se informa praticamente nada. Raramente há entrevista coletiva. É natural que as pessoas perguntem: por que a operação sobre denúncias contra o Pros referentes a 2018 ocorre uma semana após o partido lançar candidato a prefeito? Por que, durante a campanha, é realizada operação relacionada à delação da JBS, sobre fatos de 2014 e denunciados em 2017? Por que, a 12 dias da eleição, há a operação sobre hospital que começou a ser instalado há mais de sete meses?
Ouça o podcast Jogo Político:
As operações podem e devem ocorrer, mas a população tem direito a ter dúvidas e o poder público precisa oferecer explicações. Para proteger as próprias investigações. O pior dos mundos é que eventuais criminosos possam se valer do momento político como escudo e para tentar contaminar as investigações.
Se as denúncias são consistentes e o trabalho da Polícia Federal é sólido, o melhor escudo para a própria PF é agir com transparência que não tem havido.
Novo termômetro da eleição
Na noite de hoje será divulgada a nova rodada da pesquisa O POVO Datafolha para a Prefeitura de Fortaleza, quando faltarão dez dias para a eleição. É a terceira rodada de pesquisas, permitindo já observar uma série mais longa e perceber tendências. Mostrará os movimentos de forma mais consolidada. Trará também a evolução das simulações de segundo turno. E mostrará os resultados em votos válidos, forma oficial de contabilizar o resultado das eleições. A principal questão é se será apontada alguma tendência de segundo turno ou se o jogo seguirá embolado, ficando para a próxima semana.
E importante: a pesquisa será feita já sob os possíveis efeitos da operação da Polícia Federal sobre o hospital de campanha do PV. O assunto tem sido exaustivamente explorado pela campanha do Capitão Wagner nas redes sociais.
A estratégia de Eunício
Eunício Oliveira (MDB) se soma aos que batem na Prefeitura por causa do hospital do PV. É intrigante a estratégia do ex-senador. Ele se opõe frontalmente aos Ferreira Gomes, mas mantém aliança com o governador Camilo Santana (PT). Acha que foi traído pelos irmãos, não por Camilo. Mas, o crucial é a distinção. Ele crê que o grupo do governador não é necessariamente o mesmo do clã sobralense. A postura de Eunício só faz sentido diante da crença na construção de um grupo de Camilo, ainda que aliado aos irmãos Ferreira Gomes.
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