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Sem Trump, não haveria Bolsonaro e brasileiro pode partir para racionalidade ou radicalização
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Sem Trump, não haveria Bolsonaro e brasileiro pode partir para racionalidade ou radicalização

Governo brasileiro se amarrou mais do que o adequado a governo estrangeiro e agora tem problemas a administrar
Tipo Opinião
Jair Bolsonaro e Donald Trump se cumprimentam em Nova York, em dezembro de 2019 (Foto: DIVULGAÇÃO/ALAN SANTOS/PR)
Foto: DIVULGAÇÃO/ALAN SANTOS/PR Jair Bolsonaro e Donald Trump se cumprimentam em Nova York, em dezembro de 2019

A eleição de presidente dos Estados Unidos sempre mexe com o mundo todo e desta vez mexe mais ainda com o Brasil. Por aquilo que o governo brasileiro fez de errado.

Jair Bolsonaro já era pré-candidato a presidente do Brasil desde 2014, dois anos antes de Donald Trump ser eleito presidente dos Estados Unidos, em novembro de 2016. Mas, foi o método eleitoral de Trump de usar as redes sociais, a forma de se comunicar, a postura agressiva que ensinou a Bolsonaro como transformar a virulência verbal e a postura caótica num método de fazer política e vencer eleição. Não tivesse sido a eleição de Trump, considero que seria muito improvável que Bolsonaro tivesse vindo a ser eleito.

A derrota de Trump afeta Bolsonaro politicamente, mas não apenas. Como disse o jornalista Guálter George, atinge também pessoalmente. O presidente do Brasil é admirador, fã mesmo, do seu par dos Estados Unidos. É um baque para ele. Seu espelho e inspiração sai derrotado.

Indivíduos têm direito a suas preferências, afeições. Estados devem se guiar por outra lógica, sobretudo na diplomacia. Por pragmatismo, discrição. Tudo que Bolsonaro não consegue ser. O Brasil se vinculou excessiva e desnecessariamente ao governo de outro País. Embarcou em brigas que nada diziam respeito ao Brasil em nome da afinidade ideológica dos presidentes. Eduardo Bolsonaro, filho que o presidente brasileiro tentou fazer embaixador em Washington, usou boné da campanha agora derrotada do governante americano. Depois, Bolsonaro fez o mesmo. As demonstrações de simpatia pessoal pelo ocupante da Casa Branca, pessoa física, foram criando um atrelamento que agora viram problema para o Brasil.

Bolsonaro passa a ter várias questões a resolver. O chanceler Ernesto Araújo é um trumpista. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é pessimamente visto internacionalmente. Especula-se a substituição dos dois. Pessoalmente, acho que ambos não deveriam nem ter entrado. Mas, se saírem porque mudou o presidente dos Estados Unidos será mais um gesto capacho do governo brasileiro, na tentativa de resolver uma situação criada justamente por esse tipo de postura, e no qual a diplomacia brasileira vai se afundando por seus próprios erros. O pior de tudo: quais os ganhos concretos, reais para o Brasil, visíveis a olho nu?

A derrota de Trump muda os rumos do governo Bolsonaro. Aliás, do populismo de direita no mundo. Do negacionismo, inclusive. A derrota de Trump é, em grande parte, resultado da pandemia de Covid-19. Ou, melhor dizendo, da forma como Trump lidou com ela. Até o surgimento do coronavírus, a reeleição do presidente dos Estados Unidos parecia uma barbada. O quadro mudou. E Bolsonaro foi ainda mais negacionista e obscurantista que Trump. Sem Trump na Casa Branca, algumas ideias heterodoxas que o Brasil vinha adotando em organismos multilaterais perdem seu farol. A não ser que Bolsonaro se torne essa luz-guia, Deus nos abençoe.

Desempenho nas pesquisas de aliados de Bolsonaro nas eleições municipais são outro indicativo para o presidente brasileiro de como determinadas posturas podem repercutir politicamente.

O que fará Bolsonaro? Há gente dentro do governo que defende maior moderação. Inclusive, as trocas de ministros inconvenientes aos novos interesses de Washington, num gesto que se pretenderia de boa vontade. Também um Brasil menos falastrão no âmbito internacional, sem o amigo maior e mais forte para proteger.

Nas trincheiras virtuais, contudo, os bolsonaristas estão indóceis, sem querer ouvir falar de moderação. Pelo contrário, denunciam fraude aos quatro ventos. E o presidente brasileiro dá declarações de desconfiança em relação ao modelo de votação brasileiro, dando a entender que a eleição de Joe Biden foi irregular e o mesmo poderia ocorrer no Brasil em 2022. Bolsonaro já denunciava risco de fraude em 2018. Dizia não aceitar outro resultado que não a própria vitória - como se a ele coubesse aceitar ou não. Depois, falou que houve fraude mesmo e que apresentaria provas, o que não fez ainda, passados oito meses da bravata.

Há risco de o isolamento provocar um Bolsonaro ainda mais irritadiço, paranoico e radical. Sem instituições tão firmes quanto as do Estados Unidos a contê-lo.

Podcast analisa eleições em Fortaleza e nos Estados Unidos:

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