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Sarto venceu, mas levou acocho e Ferreira Gomes enfrentarão oposição como nunca tiveram
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Sarto venceu, mas levou acocho e Ferreira Gomes enfrentarão oposição como nunca tiveram

Tipo Análise
Wagner concedeu coletiva ao lado do senador e seu coordenador de campanha Eduardo Girão (Podemos) e de sua vice Kamila Cardoso (Podemos). (Foto: Barbara Moira/O POVO)
Foto: Barbara Moira/O POVO Wagner concedeu coletiva ao lado do senador e seu coordenador de campanha Eduardo Girão (Podemos) e de sua vice Kamila Cardoso (Podemos).

José Sarto (PDT) foi eleito prefeito de Fortaleza, isso é o que buscavam ele e os aliados e eles irão festejar. É justo. Mas, levaram um susto, tomaram um acocho imprevisto. Foi muito mais apertado do que se projetava. A folga indicada pelas pesquisas não existiu. O que interessa é ganhar, mas a forma como se vence, na política, faz diferença. A força política de um governante é definida por sua postura, suas ações. Mas, há um ponto de partida. Caso Sarto tivesse vencido com a diferença que apontaram as pesquisas, a força seria uma. Do modo como foi, a força será outra. Ele terá trabalho.

Há muitas maneiras de vencer uma eleição e mais ainda de perder. Uma coisa é sair com uma derrota acachapante, com ampla rejeição do eleitorado. Capitão Wagner (Pros), porém, sai com quase metade dos votos válidos dos fortalezenses. Quem perde pode sair mais forte ou mais fraco. Wagner sai com mais força do que entrou. Até as pesquisas de véspera, parecia se encaminhar para o contrário.

Ele enfrentou uma enorme coalizão política, que se reforçou muito no 2º turno. Contra prefeito, governador. Teve ao lado dele um presidente da República que mais atrapalhou que ajudou. E conseguiu o melhor resultado de um candidato derrotado desde antes da era Juraci Magalhães. Muitos que votaram neste domingo não eram nascidos. O que Wagner conseguiu é um feito.

A oposição sai maior. Consolida uma barreira metropolitana nas barbas do prefeito da Capital. Tem Maracanaú, Caucaia e ainda São Gonçalo do Amarante, também do Pros. Tem o maior colégio eleitoral do Interior, Juazeiro do Norte. A oposição ganhou a segunda, a terceira e a quarta maior cidade do Ceará. E disputou a Capital com força.

O saldo da base aliada nessas maiores cidades é de derrota. No conjunto do Ceará, é uma vitória avassaladora dos governistas. Todavia, têm uma oposição forte e consolidada como jamais enfrentaram. Significa que haverá uma alternativa real de poder em 2022, como não houve em 2018? Não dá para dizer isso. Dá para dizer que há um bom ponto de partida.

Apesar dos pesares, a base governista teve uma vitória importante. Falo do ganho da oposição, mas, se pudesse escolher, Capitão Wagner e seus aliados certamente trocariam a derrota honrosa pela vitória apertada. Três triunfos eleitorais consecutivos em Fortaleza foi coisa só alcançada na era Juraci Magalhães — ele ganhou mais um quarto período quando era vice-prefeito e herdou o mandato de Ciro. Não é simples alcançar tal continuidade numa Capital com o perfil de Fortaleza.

E importante: os Ferreira Gomes nunca venceram com facilidade em Fortaleza. Em 2012, Roberto Cláudio quase fica fora do 2º turno. Em 2014, Camilo Santana (PT) venceu no Interior, mas foi batido por Eunício Oliveira (MDB) em Fortaleza. Em 2016, na cadeira de prefeito, Roberto Cláudio também ganhou apertado de Wagner. Nunca foi um passeio. Com Sarto, chegou a haver essa falsa impressão.

Há sinais de esgotamento, de cansaço do grupo Ferreira Gomes na Capital. Sarto tem muitos desafios, entre eles o da oxigenação e renovação. Os principais líderes do grupo submergiram na campanha, entre outras razões, porque estão desgastados perante o eleitorado.

A vitória dos Ferreira Gomes em Fortaleza foi crucial para o grupo, para o projeto nacional. Uma derrota seria uma hecatombe, um baque ainda maior do que foi perder Caucaia para o grupo de Domingos Filho (PSD). Porém, a eleição de Sarto, do ponto de vista do sentimento, tem alguma semelhança com a eleição de Ciro para prefeito em 1988. E se parece mais ainda com a eleição de Lúcio Alcântara para governador em 2002. Claro, ressalve-se, ambas foram vitórias muito mais apertadas. Essa foi mais parelha do que se projetava.

Depois de Ciro, o grupo do então Cambeba nunca mais venceu uma eleição em Fortaleza. Aliás, a eleição de Sarto é a primeira vez desde aquela eleição em que Tasso Jereissati (PSDB) apoia um candidato a prefeito vitorioso em Fortaleza.

Depois de Lúcio ser eleito, houve uma ruptura interna no governismo cearense, levando ao fim do ciclo do tucanato e à ascensão dos Ferreira Gomes como protagonistas. Não quer dizer que a eleição de Sarto demarque o início do fim de um período vitorioso — até porque, como falei, vejo semelhanças, mas há também diferenças evidentes entre as situações.

A questão é que Sarto assume com muitas tarefas. Além do combate à pandemia, a recuperação da economia, a retomada da educação, os problemas na moradia, o cuidado do espaço urbano, ele tem desafio político de afirmar a sua força, a personalidade própria dentro do grupo e empreender uma renovação que é condição para que uma das maiores hegemonias que Fortaleza já viu venha a se manter.

Foto do Érico Firmo

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