Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O grupo Ferreira Gomes passa a ter uma oposição fortalecida e como nunca teve desde que se tornou hegemônico no Ceará, após as eleições de 2006. É uma oposição forte e programática. Que realmente se opõe às políticas do governo. Isso é bom.
Ué, o leitor pode me perguntar, toda oposição não é assim? Não, não é. Durante parte considerável do ciclo Ferreira Gomes, a oposição foi bem minguada. E quase nunca, com honrosas exceções, o motivo do contraponto era programático. Quase sempre a oposição se devia a disputa de poder.
O primeiro grupo opositor dos Ferreira Gomes foi o PR, na época sob comando do ex-governador Lúcio Alcântara, hoje no PSDB. O que aconteceu é que eles eram aliados até antes da eleição. Lúcio tentou segurá-los em sua base. Os grupos governaram juntos. A briga pelo poder os separou.
Outra oposição foi do PSDB. História parecida. Era o partido de Lúcio Alcântara, foi derrotado na eleição, mas não seguiu o ex-governador na oposição. Foi para a base. Em 2010, quando Tasso Jereissati percebeu, ou achou, que não teria apoio dos Ferreira Gomes para o Senado, rompeu.
Depois, foi a vez do PT de Fortaleza. Ali os estranhamentos já vinham, mas os grupos coabitavam no Governo do Estado e na Prefeitura de Fortaleza. Em 2012, o PSB, então legenda dos Ferreira Gomes, lançou-se à Prefeitura. Então, a ala petista ligada à Luizianne Lins passou para a oposição.
Em 2014, Eunício Oliveira (MDB) queria ser o candidato governista. Não conseguiu e rompeu. Essa é a história da oposição mais significativa aos Ferreira Gomes até hoje: dissidências internas.
Afora, isso, houve o Psol, que é um partido pequeno, e personagens isolados, como Heitor Férrer (Solidariedade) e Capitão Wagner (Pros). Em 2018, a oposição tomou surra histórica na eleição para governador, mas, paradoxalmente ou não, elegeu Luis Eduardo Girão (Podemos) senador. Não à toa, Eunício Oliveira, que havia voltado ao governismo, acha que lhe puxaram o tapete.
O fato é que essa fatia da oposição liderada por Wagner e Girão nunca foi governo. É convictamente anti-Ferreira Gomes. O clã governista nunca enfrentou tal situação de um grupo tão forte — hoje tem um senador e os prefeitos de três das quatro maiores cidades do Estado.
Isso quer dizer que a oposição ameaça o grupo governista no Estado em 2022? A preço de agora, não. A oposição se fortaleceu, mas é pouco. A disparidade é enorme no Interior. Estão longe da força que Eunício tinha em 2014, por exemplo, ou Lúcio em 2006. Claro, são dois anos, muita coisa pode mudar no cenário. Por exemplo, Eunício seguirá ao lado de Camilo? Ou se junta àqueles que o apoiaram em 2014 e o derrotaram em 2018?
A oposição já tem condições de ser muito mais competitiva que em 2018, quando não disputou o governo de fato. Nas grandes cidades, não é que a oposição será competitiva. Ela já foi.
Ganha por um lado e se expõe por outro
Virar governo é o que toda oposição quer, ou quase toda. Mas, cobra seu preço. O pros teve uma gigantesca vitória em Caucaia, com Vitor Valim. O Podemos teve outra em Juazeiro do Norte, com Glêdson Bezerra. Ótimas vitrines e grandes vidraças.
Porque os dois municípios têm muitos problemas. São dois dos maiores caldeirões políticos do Ceará. Ou frigideiras onde muitos políticos já arderam em óleo fervente. São laboratórios de crises. Em Juazeiro, por exemplo, nunca ninguém se reelegeu prefeito. Em Caucaia, só um até hoje.
Nas duas maiores vitórias oposicionistas, os eleitos terão muito trabalho e ficarão expostos. Pelo bem das sofridas populações, torço para que façam trabalho melhor que o dos que antecederam — eles e todos os outros. Mas, é que Caucaia e Juazeiro andam precisando de uma torcida extra.
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