Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Destaco dois pontos nos discursos de ontem feitos por José Sarto (PDT). Um é óbvio, a prioridade ao combate à pandemia de Covid-19 e ao início da vacinação. É a prioridade em qualquer lugar do mundo, com exceção do Palácio do Planalto e um ou outro recanto obscuro. Outro ponto que Sarto repetiu foi a necessidade de superar a divisão política. É chavão, mas também uma prioridade política para ele. A votação de Sarto foi abaixo que o percentual de avaliação ótima ou boa do agora ex-prefeito Roberto Cláudio nas pesquisas. O que sinaliza uma busca de renovação para além da opinião sobre a administração que estava no poder. O segundo turno da eleição foi o mais apertado da história de Fortaleza. Sarto teve 51,69% contra 48,31% do Capitão Wagner (Pros). "A eleição acabou, é página virada", enfatizou ele.
Quando Roberto Cláudio (PDT) começou o mandato, também havia divisão na Cidade e ele comprou brigas que consumiram capital político que ele viria a recuperar mais tarde. O prefeito que se despediu ontem terminou o mandato muito mais conciliador. Mais experiente e com muito mais estrada no parlamento, Sarto tem boa possibilidade de não repetir esse erro. Na política está uma das melhores oportunidades de se sair melhor que o antecessor, ao menos no recorte da primeira fase do mandato.
O que há de melhor e de pior no secretariado de Sarto
Sarto escolheu uma equipe experiente. Quase todo mundo conhece a administração pública e, mais especificamente, a Prefeitura. Não haverá descontinuidade. A maioria é de pessoas com formação nas respectivas áreas. Num ano complicado como se prenuncia 2021, experiência é um atributo positivo. Todavia, uma dificuldade, que já havia comentado, será a capacidade de inovar. Sair do mais do mesmo de quem já vem na gestão. Sarto assume num momento em que o grupo dá sinais de fadiga.
O número de mulheres não chega a ser expressivo: 5 dos 20 nomes. Mas, é bastante positiva a centralidade que terão: educação, saúde, finanças.
Quanto ao pior aspecto, a indicação do irmão do prefeito para secretário da Cultura. É tradição dos governos Ferreira Gomes indicar irmão do gestor. Cid Gomes (PDT) começou com Ivo Gomes (PDT) na administração e terminou com Ciro Gomes (PDT). Roberto Cláudio tinha Prisco Bezerra (PDT) no primeiro mandato. Só Camilo Santana (PT) não colocou irmão no governo até hoje, mesmo indicando irmãos de Cid e Ciro Gomes (PDT).
Entendo até mais as escolhas de Ivo e Prisco, por exemplo, que a de Elpídio Nogueira (PDT). Ivo era chefe de Gabinete. Prisco, secretário de Governo. Eram cargos do centro de comando da administração. Discordo, mas entendo que o governante queira ter alguém o mais próximo possível nessas funções. A Cultura é importantíssima, mas não está no coração do governo. Elpídio não é alguém da área propriamente. Ok, ele toca gaita. Mas, qual a relação com o setor cultural? Uma área delicada, sensível.
E Elpídio é vereador. Ele não precisa. Além disso, já foi secretário outras vezes. Nunca fez um trabalho que se possa dizer indispensável, marcante. Muito menos está clara a contribuição que pode dar para a Cultura.
O lado bom é que, com o irmão do prefeito, a Secretaria da Cultura talvez tenha mais prestígio que em governos anteriores. Sarto não há de deixar Elpídio com o pires na mão, com editais por pagar e dívidas acumuladas.
A novidade
A novidade de maior impacto público, é a escolha do coronel Eduardo de Holanda, do Corpo de Bombeiros, para a Segurança Cidadã. Ele despontou num momento de comoção, no desabamento do edifício Andréa, e fez trabalho reconhecido pela sociedade. A escolha tem o aspecto interessante de colocar alguém egresso dos Bombeiros para comandar a segurança. Tem muita relação com o papel que o Município tem a desempenhar nesse setor. A melhor sacada do prefeito eleito.
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