Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: ROBERTO SCHMIDT / AFP
Congresso dos Estados Unidos foi invadido em janeiro de 2021 por pessoas que não aceitam o resultado eleitoral
Jair Bolsonaro está frustrado, chateado mesmo. "O Brasil está quebrado, eu não consigo fazer nada", lamentou. Durante a campanha, o presidente listou seus pedidos à equipe econômica: "O que a gente quer: inflação baixa, dólar compatível para quem importa e exporta, taxa de juros um pouco mais baixa e não aumentar mais impostos. Só pedi coisa boa", disse em entrevista ao O Globo em 21 de julho. Nem vou aprofundar o que ele está entregando e o que não está dos pedidos. O dólar chegou a patamar que Paulo Guedes disse que seria alcançado se fosse feita muita besteira. A inflação, assim como juros, estão baixos. Mas, lembro do que disse o próprio Bolsonaro naquela ocasião, sobre o índice que já era reduzido. "Agora, é importante dizer que a inflação está muito mais baixa, não pelo trabalho da equipe econômica, mas sim pelo desemprego e empobrecimento da população."
Quando questionado a aprofundar seu pensamento econômico, Bolsonaro saiu-se com essa: "Esse é o bê-a-bá, precisa saber mais do que isso? Estou indo para o vestibular ou para campanha política?" Ora, ser presidente deveria ser uma seleção muito mais criteriosa do que um vestibular.
Mas, bem, é curioso a visão que Bolsonaro tinha do que seria governar. Imaginava fazer pedidos que a equipe econômica iria realizar. Pensava em mandar e as coisas acontecerem por ato de vontade. Não lhe ocorreu que precisava de trabalho, muito trabalho para viabilizar as coisas, fazer com que acontecessem. Não é só na canetada.
Governar exige construir as condições, com as decisões certas naquilo que está ao seu alcance. Com capacidade de articulação e coordenação naquilo que exige participação de outros atores. Construindo um ambiente saudável, de governabilidade. Nisso Bolsonaro é uma calamidade. Ele é o maior agente da própria ingovernabilidade. Depois se queixa que não consegue fazer nada.
Ele esperava o mandonismo, de as coisas serem do jeito que ele quer. Ele mandar e os outros obedecerem. De dar murro na mesa. Política não funciona assim.
Trailer de um filme assustador
Foto: ROBERTO SCHMIDT / AFP Congresso dos Estados Unidos invadido por gente que não aceita o resultado eleitoral
Assustadoras as imagens do não reconhecimento do resultado eleitoral no País que se proclama maior democracia do mundo, que começou a redefinir o conceito de República. Um País de instituições das mais sólidas do planeta, acredita-se. Donald Trump adotou discurso incendiário, beligerante e delirante, insuflou a população. Não poderia dar em outra coisa. Em seu último ato, a melancólica despedida da Casa Branca tem como marca a desmoralização dos Estados Unidos. A ele pouco importa. É um agente do caos e se coloca acima do País e da democracia. Parabéns aos envolvidos.
Muita gente que não gosta dos Estados Unidos se divertiu com as cenas de república de fundo de quintal, daquelas que Washington vez em quando ajuda a desestabilizar.
O problema é que os problemas dos Estados Unidos nunca ficam restritos a ele. Pode até se dar bem sozinho, mas nunca se dá mal isoladamente. O que se viu ontem é o mais contundente atestado contemporâneo de avacalhação do jogo democrático. É um sinal para outras democracias. E um sinal para outros tantos populistas mundo afora de que resultados eleitorais podem ser contestados ao limite do disparate.
Imagine o que ocorreu nos Estados Unidos em um País de instituições menos sólidas e democracia menos amadurecida. Projetos de autocratas de retórica irresponsável, propagadores do caos, não faltam por aí.
O partido de Aníbal
Aníbal Gomes, diferentemente do que escrevi ontem, é do DEM, e não mais do MDB.
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