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O candidato que une Bolsonaro, o PT e os Ferreira Gomes
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O candidato que une Bolsonaro, o PT e os Ferreira Gomes

Tipo Opinião
Rodrigo Pacheco foi eleito presidente do Senado (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)
Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado Rodrigo Pacheco foi eleito presidente do Senado

Rodrigo Pacheco (DEM-MG) chega ao comando do Senado com os apoios mais improváveis. Foi pesadamente apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro. Mas, teve voto declarado da bancada do PT. E também os Ferreira Gomes o apoiaram. Teve adesão do PDT e voto declarado de Cid Gomes. Alianças ecléticas são a história da política brasileira, mas Bolsonaro e o PT talvez sejam o maior antagonismo já visto no País. Desconfio que ainda mais que os comunistas e a UDN. Os Ferreira Gomes foram a terceira força na eleição de 2018. Estão lá os três com Pacheco.

Importante salientar que não se trata de uma daquelas articulações consensuais no Congresso, não. Pacheco teve 57 votos e a adversária dele, Simone Tebet (MDB-MS), teve 21 votos. Ficou longe, mas não é que não havia ninguém na disputa. Há no Senado um campo que não é nem Bolsonaro, nem PT, nem Ferreira Gomes. Nesse campo estão, declaradamente, os cearenses Tasso Jereissati (PSDB) e, também, Luis Eduardo Girão (Podemos) — que muitas vezes fecha com a base de Bolsonaro, mas não neste caso.

Pacheco é produto da articulação do antecessor no comando da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Aliás, outra personagem improvável. Alcolumbre surgiu de uma articulação de última hora, no começo de 2019, contra o que parecia uma quase certa eleição de Renan Calheiros (MDB-AL) para voltar a dirigir o Senado. Alcolumbre não tem sido muito feliz em sua base — não conseguiu eleger o irmão prefeito de Macapá (AP), com imagem bastante desgastada sobretudo depois do apagão que deixou o Amapá no escuro. Mas, no Senado ele parece que sabe operar bem.

Os acordos para aproximar os Ferreira Gomes do DEM são fáceis de entender. Ciro Gomes tem entendimentos antigos com o partido. Em 2018, acreditou que estava perto de ter o apoio da sigla na eleição presidencial. Tem bons entendimentos com Rodrigo Maia (DEM-RJ) e ACM Neto (DEM-BA). Mais difícil é a equação que levou o PT a apoiar o candidato do DEM, aliado de Bolsonaro.

O partido divulgou uma nota na qual explica que o principal motivo para apoiar Pacheco foi a defesa da independência do Senado. Confesso que não entendi como o candidato mais adequado para garantir essa independência em relação ao presidente da República possa vir a ser o candidato apoiado por esse presidente. O PT destaca ainda pontos programáticos apresentados a Pacheco: defesa do SUS, recuperação da economia e desenvolvimento ambientalmente sustentável, busca pela retomada do auxílio emergencial, contra a fome, combate ao racismo, homofobia, machismo, ao autoritarismo, garantia da democracia interna no Legislativo e defesa das regras regimentais.

Da forma como é apresentada, trata-se de pauta anti-Bolsonaro. Que o partido espera ver abraçado pelo candidato de Bolsonaro. Tem um negócio esquisito aí.

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O fato é que uma candidatura que reúne apoios tão diversos e tão controversos, das duas uma: ou não tem como dar errado ou não tem como dar certo.

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Moro blasé

O ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski tirou o sigilo de 50 páginas de conversas que teriam sido trocadas entre o ex-juiz Sergio Moro e procuradores da Lava Jato. Moro repete o mesmo discurso que mantém desde o início dos vazamentos: não reconhece as conversas. E diz que a origem foi ilícita. Verdade, a origem é ilegal. Mas, isso não encerra o assunto e a resposta de Moro é insuficiente. O teor das conversas não são qualquer coisa, que se pode ignorar pela origem ilícita. Se as conversas são verdadeiras, o que há ali contém crimes mais graves que o vazamento — e, sem prejuízo da punição deste, há sim de se esclarecer aquele.

A questão é: ou Moro diz, de formas cabal: as conversas são mentira, foram inventadas. Ou a situação dele e do processo julgado por ele fica bastante questionável.

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