Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Foto: Thais Mesquita
Escondido atrás da fiação, o palacete Carvalho Mota
A lotação dos ônibus é o argumento preferido dos críticos das medidas de isolamento social. O que justifica fechar comércio mais cedo, impedir restaurante de funcionar até mais tarde enquanto as pessoas estão abarrotadas nos coletivos? A comparação tem lógica, mas esbarra em um problema: é mais fácil as pessoas deixarem de ir a shoppings e pararem de frequentar restaurantes do que deixarem de andar de ônibus. O paralelo não cabe. Transporte coletivo é serviço essencial. Falo inclusive uma pergunta: quantos restaurantes de maior porte conseguiriam funcionar se os trabalhadores não dispusessem de ônibus?
Isso não significa que está certo os ônibus estarem lotados. Está erradíssimo. É um completo absurdo, a propósito. Justamente porque as pessoas muitas vezes não podem escolher estar lá ou não. Se o restaurante estiver cheio, a pessoa pode não entrar. Com o ônibus, quem precisa se deslocar nem sempre pode fazer a mesma opção. (Que fique claro: o fato de o consumidor poder escolher não ir não dá direito de o restaurante estar lotado.)
Tem um absurdo maior ainda: transporte coletivo é serviço público. As empresas são privadas, mas concessionárias de serviço municipal. É desmoralizante, de fato, para o poder público que tenta restringir atividades ter um serviço seu abarrotado de gente.
Ônibus não deve estar lotado, mas ele estar cheio não é argumento para estabelecimento abrir. Aliás, quem critica a lotação dos coletivos muitas vezes não quer mudar isso. Quer usar como pretexto para liberar tudo de forma generalizada. É mais um motivo para se dar solução para o problema. Vira munição para os críticos que tentam desqualificar todas as medidas de isolamento.
Importante, por isso, o anúncio do prefeito José Sarto (PDT) de que haverá frota de 200 ônibus extras em horário de pico. A medida já deveria ter vindo há muito tempo. Antes tarde.
Há um agravante no fato de que a frota foi reduzida no início da quarentena, em março do ano passado, mas seguiu abaixo do número normal por razão de economia das empresas, que reclamam de prejuízo e desde o ano passado reivindicam aumento das tarifas. É outra complicação nesse debate.
Apoio aos estabelecimentos
Governador Camilo Santana (PT) promete para semana que vem medidas de apoio a restaurantes que sofrem restrições. A iniciativa é justa e faz-se necessário um apoio vigoroso. O setor tem sofrido muitas restrições. E se insurge contra elas. A perspectiva de apoio do governo coloca o debate em seu legítimo lugar. Há de se discutir como atravessar o momento de crise aguda — que é de saúde pública e repercute na economia, e não o inverso. Não é o caso de fingir que a crise não existe e tentar seguir com a normalidade, como pretendem alguns empresários. Fingir que o problema não existe não o faz desaparecer. Os segmentos mais afetados, e que empregam muita gente, merecem ter suporte, sim. Esse debate cabe, não a revolta contra as medidas que as autoridades médicas reivindicam.
Foto: Thais Mesquita Escondido atrás da fiação, o palacete Carvalho Mota
O palacete e a iniciativa privada
Como O POVO mostrou ontem, foi aprovada cogestão entre setor público e privado para o Palacete Carvalho Mota, no coração do Centro de Fortaleza. O belíssimo e abandonado prédio sediou o antigo Museu das Secas. Deteriora-se aos poucos aos olhos da multidão que passa frenética diante dele todos os dias.
A entrega de um patrimônio histórico à gestão privada é assunto delicado. Precisa ser bem explicada, bem acompanhada. Mas há de se reconhecer que a situação sob gestão pública tem sido de abandono. É assim desde 2003, quando o museu foi fechado.
A decisão de cogestão ocorre com o governo Jair Bolsonaro. O abandono definitivo começou no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Que se encontrem meios para preservar o espaço, para dar acesso público a ele e para devolver-lhe a vida.
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