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Se pandemia não for contida, restrições aumentarão
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Se pandemia não for contida, restrições aumentarão

Tipo Opinião
Protesto na Praça Portugal contra decreto de combate à Covid-19: sintoma de um tempo (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Protesto na Praça Portugal contra decreto de combate à Covid-19: sintoma de um tempo

Equívocos são cometidos também por motivos que têm suas justificativas. Primeiro a Assembleia Legislativa e depois a Praça Portugal têm sido locais de protestos de representantes de restaurantes indignados com as restrições impostas pelo decreto do governador Camilo Santana (PT). Não posso dizer que não entendo trabalhadores preocupados com seus empregos, empresários preocupados com seus negócios.

Ocorre que, no fundo, a mensagem que enviam é: queremos continuar a funcionar independentemente da pandemia. Entendem que não são responsáveis por ela. E querem manter as atividades, não importa o resto. Não é assim que o mundo funciona e os problemas deles não serão resolvidos sem olhar para o todo. Com exceção de poucos locais que pagaram a conta com mais mortes, em toda parte o aumento de casos de Covid-19 veio acompanhado de restrições a comércio e serviços. Se os estabelecimentos querem, legitimamente, voltar a funcionar em plenitude, tem um único caminho: trabalhar para conter a pandemia. O mais é gastar saliva.

O gráfico da Covid-19 no Ceará é claro. Houve número crescente de casos até maio, depois estabilidade até cair a partir de julho. Isso coincide com as restrições e a posterior liberação. De outubro para novembro, o número de casos voltou a subir. E desde o fim de janeiro, a pressão sobre a rede hospitalar explodiu. Não tem segredo: quando isso acontece, as restrições aumentam. Tenho uma má notícia: se a situação seguir piorando, as restrições vão aumentar. O limite de horário de funcionamento pode, sim, voltar a ser fechamento total caso haja agravamento. Por isso é tão pouco aconselhável o tipo de aglomeração que tem sido promovido, inclusive com risco de levar o vírus para dentro dos restaurantes.

Enquanto protestam, a lotação dos hospitais explode. Ontem, dez estavam com UTIs saturadas. Também ontem foram confirmadas três pessoas com a variante de Manaus do coronavírus — potencialmente mais grave.

Creio que esses movimentos podem ficar na história como mais um episódio de deslocamento da realidade e ensimesmamento no meio de uma calamidade de saúde pública. No lugar de um baile na Ilha Fiscal, a revolta de bares e restaurantes na Praça Portugal é a síntese de um sentimento incapaz de perceber a própria realidade para além de si. A festança na Ilha Fiscal tinha a vantagem de não ocorrer em meio a uma tragédia humana.

Quem propaga a Covid-19

Os restaurantes argumentam que adotam padrões que permitem operar com segurança. Em muitos casos, é verdade. Mas aponto uma coisa: no fim de semana, a Polícia Militar fechou 627 estabelecimentos que desrespeitaram o decreto. Nas semanas anteriores já havia outros flagrantes. As entidades que representam o setor dizem — e é verdade — que esse não é o padrão de comportamento dos estabelecimentos que representam. Ocorre que 627 casos de descumprimento não são exatamente exemplo de disciplina do setor. E as regras precisam valer para o segmento inteiro. Claro, há de se reconhecer quem constrói condições sanitárias mais adequadas. Mas, convenhamos, mais de 600 estabelecimentos fechados em um fim de semana dão a medida do quanto essa fiscalização é complexa e quanto a eventual distinção entre diferentes casos — concorrentes — abriria margem a injustiças.

Quantas mortes?

Uma pergunta que coloco a quem quer abrir a todo custo, independentemente da Covid-19. Quantas mortes você acha que vale manter seu negócio? O dono da Madero dizia que não se podia parar o País por 5 mil ou 7 mil mortes. São hoje 232 mil. Quantas mortes os manifestantes da Praça de Portugal acham que vale abrir? Mas não mortes genéricas. Mortes de pessoas das famílias de cada um. Quantas mortes eles acham que valeria à pena não fechar duas horas mais cedo por 15 dias? Porque não imagino que eles pensem que a doença só atingirá clientes, deles próprios ou, de preferência, dos outros estabelecimento. Ou no máximo chegará a funcionários. Estão eles dispostos a arcar com o aumento da mortalidade, com a falta de hospital para familiares deles, caso a pandemia siga a se agravar?

 

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