Bolsonaro e os governadores: um ano atrás já seria tarde
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Em 28 de janeiro de 2020, o Brasil teve o primeiro caso suspeito de Covid-19. Em 26 de fevereiro de 2020, houve o primeiro caso confirmado. Em 24 de março, o presidente de República se reuniu com governadores. Foi decidida a criação de uma coordenação nacional de enfrentamento à pandemia. Haverá um comitê que se reunirá toda semana. Se isso tivesse ocorrido em março de 2020, seria tarde. Mas, estamos falando de março de 2021. São 300 mil mortes depois.
Em quase 50 anos de Programa Nacional de Imunização (PNI), nunca houve uma resposta a epidemia tão descoordenada. O presidente Jair Bolsonaro sempre argumenta que o Supremo Tribunal Federal (STF) o impede de agir, o que é uma absoluta mentira. O STF o impediu de desfazer o que prefeitos e governadores fazem. Não o proibiu de tomar uma atitude em nome da saúde. Alguém aí sabe de uma coisa que Bolsonaro tentou fazer para combater o coronavírus e não pôde porque o STF proibiu? A única coisa que o impediram foi de reabrir o comércio e os serviços, o que só pioraria a pandemia. Aliás, essa polêmica nunca existiu antes porque nunca presidente ficou brigando com governadores no enfrentamento a uma doença.
O principal papel do Governo Federal é de coordenação e definição de estratégia nacional. Depois de tanta dor, sofrimento, tantos absurdos e verdadeiros crimes contra a vida, é até difícil saber se há algo a fazer. Se há estratégia a traçar. O “salve-se quem puder” é a ordem no Brasil há 13 meses.
Não sei sinceramente o que esperar da anunciada nova postura de Bolsonaro. Minhas expectativas são bem baixas: que o presidente não mude de ideia até semana que vem, que pare de atrapalhar e que acelere a aquisição de vacinas.
Ouça o podcast:
Homem que é nome de ginásio quase foi governador
Morreu na manhã desta quarta-feira, a duas semanas de completar 90 anos, o ex-deputado estadual, ex-deputado federal e ex-vice-prefeito de Fortaleza Aécio de Borba. A maioria das pessoas deve associar o nome ao ginásio vizinho ao estádio Presidente Vargas. Aécio foi fundador e, por décadas, presidente da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (depois Futsal). E quase foi governador do Ceará.
Começou na política pela UDN e terminou no PPB, atual Progressistas. Foi secretário dos dois governos Virgílio Távora. No segundo, era uma espécie de coordenador do secretariado. Era o nome que Virgílio queria fazer sucessor, em 1982. Mas, naquela época, o Estado tinha o poder dividido entre três coronéis. Além de Virgílio, Adauto Bezerra e César Cals. O destino do Estado foi decidido no famoso "acordo de Brasília", um dos momentos cruciais da história cearense.
Havia impasse entre os três coronéis. O ministro-chefe da Casa Civil era José Leitão de Abreu, que Elio Gaspari definiu como o mais poderoso da história republicana. Ele tentava contornar o impasse, mas estava apressado para viajar ao Rio Grande do Sul, para o sepultamento de um renomado desembargador. Ele perguntou quem era o indicado de Virgílio, que citou Aécio. Consultou Adauto, que colocou a si como candidato. Cals, que tinha menos força na época, indicou Wilson Gonçalves.
A hora do embarque de Leitão de Abreu se aproximava e não havia solução. Ele precisava costurar um acordo e perguntou se Virgílio tinha um nome alternativo. Foi quando foi mencionado Gonzaga Mota. Leitão perguntou se algum dos outros dois tinha algo contra Gonzaga. Adauto e Cals responderam que não. Então, o ministro disse que estava resolvido, Adauto indicaria o vice e Cals escolheria o prefeito de Fortaleza. E Leitão foi ao funeral.
Aquela foi a primeira eleição direta para governador desde o golpe de 1964 e o poder dos coronéis era absoluto. Gonzaga teve o maior percentual de votos até a eleição de 2018, quando foi superado por Camilo Santana. Em 1982, o adversário derrotado foi Mauro Benevides, cunhado de Aécio.
Gonzaga Mota acabaria rompendo com os coronéis e lançando Tasso Jereissati a governador. O pacto dos coronéis em Brasília, quando Aécio de Borba foi preterido, foi o ponto de virada na história do Estado, quando começou a surgir o Ceará de hoje.
Aécio era filho de José de Borba Vasconcelos, que foi deputado federal constituinte em 1934 e 1946. Aécio foi constituinte em 1988.
Uma curiosidade: na entrevista de Gonzaga Mota às Páginas Azuis do O POVO, o ex-governador, admitindo a hipótese de ter sido traído pela memória, dizia acreditar que a definição de que ele seria o candidato a governador teria se dado num dia 24 de março. O dia em que Aécio de Borba veio a falecer.
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