Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O manifesto divulgado nesta semana, com adesão de Ciro Gomes (PDT), Luciano Huck, João Doria (PSDB) e outros, é o gesto público mais concreto até aqui na tentativa de construir um centro. Algum centro. O documento fala de democracia. Divulgado quando se recorda o aniversário do golpe de Estado dado por militares e em meio a mudanças no comando das Forças Armadas, ele é claramente crítico ao governo Jair Bolsonaro. Mas, tem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como outro alvo prioritário, embora oculto.
Costuma-se dizer que a população brasileira é, grosso modo, dividida em um terço de esquerda, um terço de direita e um terço que não está em nenhum dos lados e decide as eleições. Lula foi eleito quando conseguiu atrair esse centro, até então adepto da aliança PSDB-PFL. Quando esse campo se voltou contra o PT, Bolsonaro virou presidente.
Em 2018, o centro sofreu uma derrota avassaladora. É até difícil dizer propriamente o que é centro. Se Ciro seguir computado na centro-esquerda, o melhor desempenho dos que tentaram ocupar esse campo foi de Geraldo Alckmin (PSDB): 4,7%. O liberal João Amoedo (Novo), signatário do manifesto, teve 2,5%. Henrique Meirelles (MDB) teve 1,2%, menos que os 1,26% de Cabo Daciolo (Patriota), que não sei mesmo como categorizar. Marina Silva (Rede) ficou com 1%. Se Ciro for contado no Centro, teve 12,4%. Menos da metade dos 29,2% de Fernando Haddad (PT).
Os candidatos a se colocar contra a polarização Lula-Bolsonaro têm o seguinte problema: é muito difícil o presidente não estar no segundo turno. Faça o que fizer, tem um grupo de seguidores próximo a 30% que o apoia custe o que custar. Também é muito difícil tirar o PT do segundo turno, seja com quem for. Mais ainda se for com Lula.
O bloco que não quer nem um nem outro se vê num dificílimo cenário. Assinam o manifesto Ciro, Eduardo Leite (PSDB), Amoedo, Doria, Huck e Luiz Henrique Mandetta (DEM). De acordo com o Valor Econômico, o articulador foi Mandetta. E Sergio Moro participou da elaboração, mas não quis assinar.
Moro segue fazendo política e tenta fazer parecer que não faz. Sem lá muito sucesso.
Por determinação do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), 37 municípios do Ceará tiveram retidas suas doses de vacina. O motivo? O ritmo lento da vacinação. Em tais lugares, não se chegou a 85% de aplicação das doses recebidas. As novas doses seriam enviadas ontem, mas agora só irão quando os municípios alcançarem as metas.
Acho muito justo que as doses sejam retidas. E, inclusive, acho que seria justo redistribuir essas doses com os municípios que vacinaram mais. As remessas de lotes têm sido frequentes e esses municípios podem ser compensados futuramente, quando afinal usarem as doses que já receberam antes.
E acho inexplicável que, com quantidade tão pequena de doses até agora, não se consiga aplicá-las com velocidade mínima. A vacinação como todo o Brasil avança devagar — e isso tem custado vidas e lamentavelmente custará mais. Agora, não atingir o mínimo que se projetou?
Há municípios grandes, estruturados, inclusive o segundo, o terceiro e o quarto maior do Ceará: Caucaia, Juazeiro do Norte e Maracanaú — governados os três pela oposição. Juazeiro do Norte nega estar abaixo da meta e diz que houve apenas atraso de atualização dos dados.
Está também Itapipoca, cujo prefeito, Felipe Pinheiro (PT), é provavelmente o mais próximo ao governador Camilo Santana (PT), de quem foi assessor estratégico e de articulação na Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA). Quando Camilo virou governador, Pinheiro passou a ser secretário executivo do Desenvolvimento Agrário. Também as prefeituras de Aquiraz, Cascavel, Horizonte e Itaitinga, todas importantes e na Região Metropolitana de Fortaleza, compõem a vergonhosa lista da vacinação letárgica.
Que a divulgação dos municípios pela Secretaria da Saúde do Estado sirva para que a população pressione seus gestores e para que outros prefeitos continuem a trabalhar pela celeridade, para não virem a ter vacinas retidas.
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