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Dois mundos: o Brasil e o resto
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Dois mundos: o Brasil e o resto

Países pelo mundo já têm aglomeração e dispensam máscaras, enquanto Brasil sustenta a inacreditável e inaceitável contagem de 3 mil mortes ao dia
Tipo Opinião
Reabertura tem avançado em Israel após três lockdowns (Foto: MENAHEM KAHANA / AFP)
Foto: MENAHEM KAHANA / AFP Reabertura tem avançado em Israel após três lockdowns

A partir de amanhã, o uso de máscaras ao ar livre deixará de ser obrigatório em Israel. Seguirá obrigatório em ambientes coletivos fechados, como shoppings centers.

No mês passado, a Austrália liberou aglomerações. Em Melbourne, jogo de rugbi reuniu 70 mil pessoas. Algo que dificilmente será visto no Brasil até o fim do ano.

A Nova Zelândia já teve grandes shows no Réveillon. Grandes aglomerações estão permitidas. Portugal reabre escolas e museus.

Ah, mas você pode argumentar, o Brasil também está reabrindo. São Paulo flexibilizou esta semana. Rio de Janeiro iniciou reabertura. A Justiça derrubou lockdown instituído no Distrito Federal. Isso na capital do País e nas duas maiores cidades. E, claro, o Ceará também está reabrindo. Então, quem vê pensa que estamos muito bem, não é?

Bom, vejamos as circunstâncias em que cada reabertura ocorre. Segundo a ferramenta Worldometers, que reúne dados da pandemia fornecidos por fontes oficiais, Israel computou até a noite de ontem uma morte por Covid-19. Uma. A Nova Zelândia, zero. E vem assim há bastante tempo. Austrália, zero. Portugal estava pior, com quatro mortes. O Brasil teve mais um dia com mais de três mil mortos. Percebe a distância entre a reabertura nestes países e no Brasil?

Uma das diferenças, aliás. Porque outra, talvez mais relevante, é o fato de o Brasil estar reabrindo sem nunca ter fechado para valer. Claro, são todos países muito menores que o Brasil. Mas, menores quanto? A ponto de em um lugar não morrer ninguém e em outro morrerem três mil?

E, por falar em diferença populacional. Pelos dados do Worldometers, só dois países no mundo tem mais de mil mortes por dia. Um é a Índia, na casa de 1,3 mil. Outro é o Brasil, com pouco menos que o triplo. Sendo que a Índia tem mais de um bilhão de habitantes. Ainda assim, o que lá ocorre é um descalabro, um absurdo. Inaceitável mais de mil mortes em um dia, no estágio que já se alcançou de informação e recursos de combate à pandemia. A Índia só não é vista mundialmente como uma tragédia extemporânea porque o Brasil não deixa espaço para concorrência. Nenhum país do planeta tem a metade das mortes diárias registradas no Brasil. E reabrimos.

No futuro, nossos descendentes olharão para os dias de hoje horrorizados e incrédulos das pessoas nas ruas e de não nos revoltarmos diariamente com a mortandade evitável.

O que fizeram os que reabrem?

Em Israel, o segredo é a vacinação em massa da população. Contribui obviamente o fato de ser um país de pequenas dimensões. Mas, houve esforço para obter vacinas e vacinar. No Brasil, tira as vacinas Coronavc, desenvolvidas pela China e aqui fornecidas em parceria com o Butantan, do Governo de São Paulo. Exclui os chineses e o João Doria, que Bolsonaro tanto fustiga. Vê quantas pessoas vacinadas restam.

O País foi um dos primeiros do mundo a tornar obrigatório o uso de máscaras em locais públicos. No Brasil, o presidente da República seguidamente desdenha do uso de máscaras.

Ah, e o Ceará está saindo do segundo lockdown? Pois Israel adotou três. A Nova Zelândia também adotou lockdowns rigorosos. A ponto de serem retomados sempre que se identificava risco de crescimento. Na maior cidade do País, Auckland, o governo chegou a decretar lockdown em fevereiro após surgimento de um caso. Um! Uma morte? Não, um contágio. Imagina aí como ficaria a Praça Portugal se a cidade entra em lockdown depois de um caso de Covid-19. As carreatas que não haveria.

Austrália também fez rigoroso lockdown. Portugal flertou com o descontrole na virada de ano, adotou lockdown rígido em janeiro. Desde março gradualmente começou a reabrir. Nessa semana flexibilizou mais. Tanto que até voo do Brasil já permite. Talvez estejam exagerando nos riscos.

Ouça o podcast Jogo Político:

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