Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Faz sentido que ele se lance candidato a governador. Mas, em 2018, ele também se lançou, desistiu, voltou atrás da desistência e, no fim, acabou não concorrendo
Capitão Wagner (Pros) anunciou no fim de semana intenção de concorrer a governador no ano que vem. O anúncio é recebido com ceticismo, por alguns motivos. É uma eleição muito difícil. Wagner correria risco real de ficar sem mandato em caso de derrota. E a oposição teria outro nome forte, Luis Eduardo Girão (Podemos), que tem mandato de senador até 2026 e pode concorrer sem ficar sem mandato.
Ocorre que, diante do que significa disputar o Governo do Ceará, esse pensamento de não se candidatar para não correr risco de ficar sem mandato é meio tacanho. Certo, não sou eu que vou pagar as contas de ninguém que eventualmente fique sem o emprego. Mas, é triste pensar que os destinos políticos do Estado sejam decididos por questões como essa. Wagner é efetivamente o nome mais relevante da oposição. Se ele será candidato é outra conversa.
O fato de ele se colocar como candidato agora faz sentido, independentemente de ele vir a concorrer ou não. O que tem a perder? Testa a receptividade, ganha espaço na imprensa. Por exemplo, estou eu aqui falando dele — não que faça lá a maior diferença, mas se não fosse a pré-candidatura eu estaria aqui a falar de outro assunto. E Wagner aparece em particular quando outro nome da oposição cearense tem hoje visibilidade nacional — Girão na CPI da Covid. Se a visibilidade é boa, aí é outra conversa.
Lembro disso para apontar que há muito tempo até a campanha. Tempo bastante para a candidatura de Wagner se concretizar ou não. Nem digo por ele estar despistando, não. Tem gente que pensa que os destinos políticos já estão todos resolvidos na cabeça dos caciques, apenas aguardando a hora de anunciarem. Mas, as coisas precisam ser construídas.
Uma eleição diferente
Eleição de governador é páreo duro. É diferente de pleito na Capital, onde Wagner já mostrou força em duas disputas seguidas. Também não é como nos grandes centros — a oposição estadual venceu em Caucaia, Juazeiro do Norte e Maracanaú, segundo, terceiro e quatro maiores municípios do Ceará. Ninguém nunca se elegeu governador do Ceará sem uma forte, capilarizada e numerosa base de prefeitos. Ninguém nem ao menos conseguiu ser competitivo sem isso. O último a assustar o clã Ferreira Gomes, Eunício Oliveira (MDB) em 2014, começou sua articulação ao reunir uma base forte nas prefeituras.
Fator Eunício
Aliás, Eunício é peça importante nesse jogo. É aliado do governador Camilo Santana (PT), coloca-se como lulista de primeira hora. E hoje se opõe aos Ferreira Gomes tanto quanto Wagner. Em 2022, Camilo não será candidato e provavelmente nem será ele que dará a palavra final sobre quem disputará a própria sucessão. Se Wagner se viabiliza, Eunício pode ir com ele. Não tem a força de 2014, mas tem seu peso, e um grande partido.
Wagner e a Polícia
Uma candidatura a governador faz mais sentido para o capitão cearense do que disputar a Prefeitura. Sua história política está vinculada à Polícia Militar e à segurança pública. Aí também mora problema que já surgiu na campanha de 2020. Wagner teria de responder muito sobre a relação com as corporações policiais e as paralisações que tiveram custo de muitas vidas. Seria realmente uma grande interrogação saber como um governador Capitão Wagner se portaria diante das reivindicações de sua categoria. O Estado não tem como atender tudo, nem mesmo a maior parte do que desejam os servidores de qualquer área. O governador deve olhar para o conjunto da população, não primeiro para seus próprios funcionários. Wagner teria condições de dizer não aos primeiros e mais importantes aliados?
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