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A estratégia do PT e a divisão no Ceará
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A estratégia do PT e a divisão no Ceará

PT quer priorizar alianças nos estados na eleição do ano que vem para fortalecer palanque de Lula. Estará o partido disposto a, no Ceará, aceitar a "infidelidade" do candidato com Ciro Gomes
Tipo Opinião
Camilo Santana e Lula: apoio dividido com Ciro Gomes (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Camilo Santana e Lula: apoio dividido com Ciro Gomes

O PT nacional está disposto a sacrificar candidaturas estaduais na busca uma aliança forte para eleger Luiz Inácio Lula da Silva (PT) presidente pela terceira vez. Lula prioriza formar um arco de alianças tão amplo quanto possível, depois do isolamento pelo qual o partido passou em 2018. Os petistas são recorrentemente acusados de hegemonistas, de querer ocupar a maioria dos espaços, e não se pode dizer que seja uma crítica improcedente. Dessa vez, porém, o que se projeta é o partido deixar de ter candidatos a governador na maioria dos estados. A diretriz é apoiar candidatos fortes de outros partidos, em troca do apoio deles a Lula para presidente. E é aí que o Ceará pode virar problema.

O Estado é hoje governado pelo PT, numa aliança com o PDT. Petistas e os Ferreira Gomes, hoje pedetistas, estão aliados no governo do Ceará há 15 anos. Porém, o PDT do Ceará tem seu candidato a presidente, Ciro Gomes. Em 2018, Camilo Santana (PT) administrou a situação fazendo campanha para os dois. Em entrevista ao UOL esta semana, perguntado em quem votou, o governador disse mineiramente que o voto é secreto. Todos os sinais são de que a tentativa será de manter essa situação. Ela ocorreu em 2018 em nome da conveniência de ambos os grupos de manter um governador que, por um lado, é filiado ao PT. E, por outro, pende mais para os pedetistas que para o próprio partido.

Camilo tem admitido que deve ser candidato a senador no ano que vem. O que significará não estar no cargo na eleição que vem. A posição deverá ficar com a vice-governadora Izolda Cela, pedetista. E o candidato também será do PDT. Provavelmente Roberto Cláudio. Que provavelmente é uma das duas pessoas sem sobrenome Ferreira Gomes que mais defende a família. Se o candidato não for RC, provavelmente será a outra pessoa que mais defende o clã: Mauro Filho.

Camilo, jeitoso todo, levou a campanha de dois palanques em 2018. Mas, os ciristas Roberto Cláudio ou Mauro Filho seriam capazes de manter esse mesmo equilibrismo?

E mais: dentro da estratégia da aliança de Lula, o PT topará dividir palanque de alguém que apoia dois candidatos a presidente? A maioria da cúpula do PT estadual topa. Mas, e a estratégia nacional? Já há gente se movendo no partido, como José Airton, dizendo que quer ser candidato. Luizianne Lins também é cogitada.

O complicador extra é que, de 2018 para cá, a relação entre Lula e Ciro piorou dramaticamente. A agressividade cresceu bastante a conciliação é muito mais intrincada.

Então, o caminho é o do rompimento no Ceará? Tudo dependerá de uma pessoa: Camilo Santana. Na costura da própria sucessão, ele buscará o entendimento. E hoje tem força para isso. Até porque, nada indica que um palanque próprio para o PT no Ceará teria condições reais de ser competitivo no plano estadual. A composição é complicada e trabalhosa.

Apologia do vírus

Ontem completou uma semana que o presidente Jair Bolsonaro exercitou um de seus maiores talentos: a capacidade de colocar em pauta uma bobagem sem sentido, sobre uma questão da qual ninguém estava falando, e que se torna tema nacional sem levar a nada — ou nada de bom. Refiro-me ao suposto parecer que ele disse estar sendo preparado pelo ministro da Saúde para que as pessoas pudessem se livrar dessa opressão inominável que é usar máscaras de proteção. No dia seguinte ele se desdisse e falou que quem resolveria seria o ministro, os prefeitos e os governadores. A polêmica foi um grande nada, mas plantou a semente, mais uma vez, do não uso de máscara.

Bolsonaro falou do não uso por quem se vacinou, mas, vamos lembrar, ele já era contra máscara quando nem vacina existia. Aparecia sem ela. Em agosto passado, afirmou: “Eficácia dessa máscara é quase nenhuma.” Não é questão da vacina.

Ontem, saiu-se com mais uma, novamente na live. Afirmou que pegar Covid gera mais imunidade que se vacinar. Uma enorme estupidez, dados os muitos casos de recontaminação. Com uma diferença: quando uma pessoa vacinada pega Covid-19, há enorme possibilidade de o caso ser bem mais leve. Enquanto as pessoas que têm Covid pela segunda vez são casos frequentemente mais graves.

Sem falar que a estratégia de ficar doente para ter imunidade tem o risco de um indesejável efeito colateral: a morte.

Ouça o podcast Jogo Político:

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