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A tentativa de alternativa a Lula e Bolsonaro
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A tentativa de alternativa a Lula e Bolsonaro

Ex e atual presidentes têm maiores rejeições, e isso anima quem quer enfrentá-los sobre a perspectiva de segundo turno. O que desanima os pretendentes a terceira via é que, além de rejeição, os dois hoje têm mais voto
Tipo Opinião
"O próprio presidente Bolsonaro sempre foi eleito pelo voto eletrônico", diz Lula (Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP)
Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP "O próprio presidente Bolsonaro sempre foi eleito pelo voto eletrônico", diz Lula

Nem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem Jair Bolsonaro (sem partido) gosta da ideia de terceira via. O confronto direto é conveniente a ambos. Os dois têm as maiores rejeições da política brasileira. Muita gente os odeia. Assim, um candidato viável contra qualquer deles, num segundo turno, teria grandes chances. Enfrentarem-se entre si é a melhor chance que os dois têm.

Ocorre que tem outra coisa que Bolsonaro e Lula têm hoje mais que qualquer outro: voto. Ninguém até agora conseguiu se mostrar competitivo. Falta mais de um ano até a eleição. Pode acontecer muita coisa.

Em entrevista a Jocélio Leal, ontem, na Rádio O POVO CBN, o governador paulista João Doria (PSDB) falou com ênfase de seu projeto de ser candidato, bateu em Bolsonaro e Lula. E cogitou até se aliar a Ciro Gomes (PDT), que em 2016 o chamava de “playboy completamente descomprometido com as necessidades do povo”. Quem está na posição de Doria, ou na de Ciro, não costuma fechar portas. O entendimento é improvável. No ano que há até a definição de candidaturas, os pretendentes a alternativa a Bolsonaro e Lula farão todos os movimentos imagináveis, e alguns inimagináveis, para se viabilizar.

A gente sabe, mas quando aparece é feio

Desde que CPI é CPI que perguntas aos depoentes são combinadas, com os mais diversos propósitos. No começo de maio, quando ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta depôs, ele relatou que recebeu uma pergunta feita por engano, via aplicativo, enviada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, e apagada instantes depois. No dia seguinte, no depoimento, a pergunta apareceu feita pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), que vai virar ministro da Casa Civil.

Isso é velho, mas quando se escancara a forma como é feita, caso da médica Mayra Pinheiro, é feio, constrangedor e expõe algo inaceitável. “Eles chutam para eu fazer o gol” é uma frase que nasce histórica.

Em uma coisa Mayra tem razão

Mayra foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) por ter vazado o vídeo que a CPI da Pandemia obteve por meio de sigilo. Ela tem razão neste ponto. Tornou-se prática antiga no Brasil, largamente disseminada na operação Lava Jato, usar vazamentos seletivos. Os diálogos, ironicamente, depois vazados do ex-juiz Sergio Moro mostram que havia uma estratégia. Fez vítimas antes e agora Mayra. Se há ilegalidade no vídeo, a CPI deve investigar. Já a política de vazamentos é uma afronta a garantias fundamentais mesmo de quem é investigado.

Pior que roubar

Quanto ao teor do vídeo, nunca tive dúvida de que Mayra acredita naquilo que defende. O que o vídeo escancara é que antes veio a convicção no tratamento. E aí veio a decisão de transformar em ação de governo. E depois se foi atrás dos motivos para escolher aquele caminho e não outros.

A CPI se volta para as suspeitas de propina na compra de vacina, que são muito graves, desmoralizam os envolvidos. São devastadoras. Não nego a gravidade. Mas, acho que pior ainda que a corrupção é o governo ter tomado decisões de saúde sem base técnica, adotando um caminho de tratamento e minimizando outras alternativas com respaldo científico. É o governo ter negligenciado a compra de vacina. Isso custou e custa vidas, e acho pior ainda que corrupção. O vídeo de Mayra é elemento grave de prova na investigação.

Claro, se a decisão de comprar ou não vacina passou por propina, aí junta-se o pior de dois mundos.

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