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Brasil de Bolsonaro: essencial é descartável e irrelevante é imprescindível
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Brasil de Bolsonaro: essencial é descartável e irrelevante é imprescindível

Nesta semana descobrimos que alta da energia não é problema assim tão sério, todo mundo precisa comprar fuzil e quem disser que precisa comprar feijão é idiota. Chorar? Não adianta
Tipo Opinião
Paulo Guedes e Bolsonaro: dupla do barulho (Foto: Sergio Lima / AFP)
Foto: Sergio Lima / AFP Paulo Guedes e Bolsonaro: dupla do barulho

Ao longo da semana, personalidades do Governo Federal nos ensinaram o que é importante e o que não é. O ministro da Economia, Paulo Guedes, entende que não é um problema tão grande assim a energia ficar "um pouco" mais cara. O que é muito ou pouco não é a mesma coisa se você não é um ministro milionário. Pois bem, o ministro tranquiliza o País e informa que não precisa alarde por causa do aumento da energia. Isso não é tão importante.

Sabe o que é importante? Comprar fuzil. Essa é da lavra do presidente Jair Bolsonaro. "Tem que todo mundo comprar fuzil, pô." E achou pouco: "Tem um idiota: 'Ah, tem que comprar é feijão'. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar."

O sujeito diz que "todo mundo" precisa comprar fuzil. E o idiota é quem acha que o povo precisa é de comida, não de arma. Porque inteligente é o Bolsonaro, aquela sofisticação intelectual, aquele repertório, aquela qualificação.

Mas, se Paulo Guedes não acha tão grave a energia ficar mais cara uma coisinha, o risco de apagão preocupa o presidente. "Peço esse favor para você, apague um ponto de luz agora."

Bolsonaro é especialista em criar debates irrelevantes e fazer todo mundo mergulhar em polêmicas vazias, enquanto ficam de lado os problemas da vida real. Aqui estamos, debatendo a necessidade de todos comprarem fuzis, como outro dia era a impressão de voto.

Hoje pede para apagar um ponto de luz para resolver a crise hídrica, assim como, para proteger o meio ambiente, já pediu para se fazer cocô dia sim, dia não. Lembra dessa? Você, caro leitor que apoia o presidente, espero que esteja cumprindo direitinho esse pedido. Com a luz apagada.

Já teve a campanha da ministra Damares Alves pela abstinência sexual de jovens, já teve golden shower. Um grande vazio.

Bolsonaro projeta um País onde cada pessoa tem de ter seu fuzil. Que bela nação, que bela sociedade. A visão: cada um de nós no escuro, de fuzil na mão, defecando em dias alternados.

Bolsonaro quer a reeleição. Porque quatro anos são pouco. Precisa de mais tempo para continuar a obra, dia sim, outro também.

Qual o alvo da crítica de Guedes?

Uma coisa me chamou atenção na fala de Paulo Guedes sobre o aumento da energia. Observe: “Quer dizer, qual é o problema agora: que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos? Ou o problema é que está tendo uma exacerbação porque anteciparam as eleições?”

Muito se falou da primeira parte. Mas, e essa segunda parte? Quem antecipou as eleições? Tem alguém em mais campanha antecipada do que Bolsonaro? Que o tempo todo fala do assunto, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Que, na visita ao Ceará, fez sinalização de apoio político a Capitão Wagner (Pros) nos mesmos termos que usou na declaração de adesão nas eleições 2020.

Guedes coloca, no patamar da falta de chuvas, a antecipação das eleições. Lula está fazendo isso? Está. Ciro Gomes (PDT) também? Também. Mas, o ministro devia olhar para o chefe.

Ouça o podcast Jogo Político:

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