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Deus e o diabo no governo Bolsonaro
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Deus e o diabo no governo Bolsonaro

"O Governo fará muito mais que o diabo para não deixar o poder. Só não percebe quem não quer." A frase, dita há mais de cinco anos, é de Jair Bolsonaro e se referia ao governo de Dilma Rousseff, que saiu sem confusão. O que me recorda o dito popular: "Quem disso usa, disso cuida"
Tipo Opinião
Bolsonaro durante missa com familiares e aliados (Foto: Marcos Correa/PR)
Foto: Marcos Correa/PR Bolsonaro durante missa com familiares e aliados

“O Governo fará muito mais que o diabo para não deixar o poder. Só não percebe quem não quer.” A frase foi dita em 16 de abril de 2016. O autor foi o então deputado federal Jair Bolsonaro e se referia ao governo de Dilma Rousseff (PT).

A mente paranoica do parlamentar à época do PSC agia célere. Atribuía à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) a informação de um ataque que seria tramado e seria usado como pretexto para o PT para acusar um grupo terrorista e se recusar a entregar o poder.

Em 15 de abril deste ano, Bolsonaro falou: “Só Deus me tira da cadeira presidencial.” A declaração foi dada um dia antes de a declaração citada anteriormente completar cinco anos. Uma falava do diabo, outra de Deus.

Creio que mesmo o crítico mais empedernido de Dilma Rousseff (PT) haverá de reconhecer que a ex-presidente entregou o cargo sem qualquer resistência. Na manhã de 12 de maio, após o Senado abrir o processo de impeachment, ela deixou o Palácio do Planalto em afastamento temporário do qual não retornaria. Cercada de aliados, discursou indignada. Mas, não fez “o diabo”. Muito menos forjar um ataque terrorista.

Não que seja verdadeira a versão que tem sido disseminada de que Dilma poderia ter feito como Bolsonaro e cooptado o centrão para ficar no poder. Deixa eu contar: o centrão era base de Dilma. No mensalão, na Lava Jato, lá estavam sempre eles. Pertinho do impeachment, a então presidente abriu os cofres, liberou emendas e entregou cargos. O problema é que, num governo nitidamente prestes a cair, oferta de cargo vale muito pouco, quase nada. Então, você pode dizer: aí está. Então Dilma fez o diabo, sim. Quer mais que isso?

Não, quero não. Mas, se considerarmos que isso é fazer o diabo, Dilma fez lá atrás de Bolsonaro está a fazer agora. Não acho que seja uma leitura errada.

O ponto é que Bolsonaro claramente falava de algo mais. Mencionava informação da Abin de que haveria um falso atentado terrorista forjado. Uma acusação grave que se mostrou furada, descabida, irresponsável.

Bolsonaro já disse que só Deus o tira do cargo. Falou isso na esteira da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que anulou as condenações de Lula e tornou o ex-presidente elegível. No último sábado, o presidente falou: "Eu tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, estar morto ou a vitória. Pode ter certeza que a primeira alternativa não existe. Estou fazendo a coisa certa e não devo nada a ninguém. Sempre onde o povo esteve, eu estive.”

Ao ver o que Bolsonaro atribuiu a Dilma, e não se concretizou, e diante dos gestos e posições que recorrentemente tem adotado, o presidente parece-me muito mais propenso a fazer o diabo para não entregar o poder. Aquele velho dito: quem disso usa, disso cuida.

Tasso, Eduardo Leite e o PSDB contra Doria

Tudo no PSDB se encaminha para uma composição entre o senador Tasso Jereissati e o governador gaúcho Eduardo Leite. Os dois têm ótimas relações de longa data. A família Jereissati fez, inclusive, doações consideráveis à campanha do gaúcho em 2018. A tendência parece ser Tasso abrir mão para apoiar Leite. A eventual desistência foi “anunciada” numa inconfidência do governador paulista João Doria, em entrevista ao Roda Viva na semana passada. Tasso negou. Quem conhece o temperamento sabe que é o tipo de coisa da qual ele não gosta nem um pouco. Ele e Leite comandam hoje a frente no PSDB que tenta se contrapor ao favoritismo de Doria para ser candidato.

Ouça o podcast Jogo Político:

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