Bolsonaro tem visão distorcida sobre democracia e Forças Armadas
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Qual foi a primeira vez que você ouviu falar de Jair Bolsonaro? Ele ficou bastante conhecido por volta de 2011. Era presença constante em programas como Superpop, de Luciana Gimenez, e o Pânico, onde era presença recorrente. Os absurdos que proferiam davam audiência. Não estava lá pela política, mas como personagem bizarro.
No CQC, ao participar ao lado de Preta Gil, foi questionado sobre o que faria se um filho se apaixonasse por uma negra. "Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem-educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu", foi a resposta do hoje presidente da República.
Em 2014, em entrevista ao jornal Zero Hora, ele assim se referiu à deputada federal Maria do Rosário (PT-RS): Ela não merece (ser estuprada) porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece."
Em 2016, na votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT), levou uma cuspida do então deputado federal Jean Wyllys (então no Psol-RJ), em meio a troca de insultos. Com palavras e atos assim, Bolsonaro virou celebridade nacional. Mas, antes, ele já tinha mais de duas décadas de trajetória pública.
O histórico envolve elogios a Hugo Chávez, manifestação de que não rejeitava o socialismo, ida até Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para pedir a indicação de comunista para ministro da Defesa e episódio de assalto no qual reconheceu a impotência, apesar de estar armado.
Eram episódios de exceção. A regra da atuação de Bolsonaro era a defesa da pena de morte, da ditadura militar e de direitos — quando não privilégios — de militares. Era fundamentalmente um corporativista. Por décadas. Como liberais se convenceram de que, convertido um ano antes da eleição, ele seria alguém que enxugaria o Estado eu não sei.
Admirador de ditadores e torturadores
Quero retornar a um dos pontos citados acima: ditadura militar. Para defender o corporativismo militar entre as décadas de 1980 e 1990, Bolsonaro defendia abertamente o golpe de 1964. Fazia apologia de torturadores. Basta conhecer um pouquinho da história do hoje deputado para saber que o apreço dele pela democracia é nenhum. Ele admira os golpistas de 1964 e os ditadores que se seguiram.
Para Bolsonaro, democracia é opção e concessão das Forças Armadas
Bolsonaro, por isso mesmo, tem noção completamente distorcida do que é uma democracia e do papel das Forças Armadas. No terceiro mês de governo, em 7 de março de 2019, ele falou: “Democracia e liberdade só existe quando a sua respectiva Forças Armadas assim o quer” (sic).
Em 18 de janeiro, ele disse: "Quem decide se um povo vai viver numa democracia ou numa ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não apoiam. No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor desses homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar."
Para Bolsonaro, a democracia é uma concessão das Forças Armadas. Uma decisão que elas tomam. Porque a supressão da democracia, na cabeça dele, é uma possibilidade e uma escolha que a elas cabe.
É justo o contrário: No Estado de direito, as Forças Armadas existem para garantir a democracia. Isso ele jamais entenderia.
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