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Manifestações de hoje não têm precedentes: e não é pelo tamanho ou força
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Manifestações de hoje não têm precedentes: e não é pelo tamanho ou força

Brasil teve grandes manifestações, como houve em outros tempos. Mas, nunca as multidões foram usadas para ameaçar instituições
Tipo Opinião
Manifestantes na Praça Portugal, em Fortaleza, por volta de 12h30min de ontem (Foto: JULIO CAESAR/O POVO)
Foto: JULIO CAESAR/O POVO Manifestantes na Praça Portugal, em Fortaleza, por volta de 12h30min de ontem

grandes manifestações pelo Brasil. Tudo dentro do previsível, nada de excepcional. O presidente Jair Bolsonaro jogou seu peso político para arregimentar gente nas ruas. Ele está enfraquecido e é a cada dia mais impopular. Mas, ainda tem muitos apoiadores. Segundo as pesquisas, na casa dos 30%. Uma pequena fração disso já enche as ruas. Nem de longe significa hegemonia social ou política. Bolsonaro não a tem. O presidente é hoje minoria.

O que não tem precedentes são manifestações para fazer ameaças. As Diretas Já cobravam direito de votar para presidente. O fora Collor e o fora Dilma pediam impeachments dos respectivos presidentes. Não tinha "atendam-me, se não...". Não tinha "se não". Os atos de hoje foram feitos para demonstrar o tamanho do apoio que sobrou e dizer que, se não for feito o que o presidente quer um dos poderes da República pode sofrer "aquilo que nós não queremos."

Manifestantes na Praça Portugal, em Fortaleza, por volta de 12h30min de 7 de setembro de 2021(Foto: JULIO CAESAR/O POVO)
Foto: JULIO CAESAR/O POVO Manifestantes na Praça Portugal, em Fortaleza, por volta de 12h30min de 7 de setembro de 2021

As ameaças de Bolsonaro à democracia e às instituições são um absurdo e uma afronta. "É um comunicado, é um ultimato para todos que estão na Praça dos Três Poderes", disse o presidente. "Não queremos ruptura, não queremos brigar com Poder nenhum, mas não podemos admitir que uma pessoa turve a nossa democracia." Não queremos ruptura, mas... Na posição em que está não cabe "mas". Ele não pode ser agente da ruptura. Isso é crime de responsabilidade.

O presidente deixou muito claro o desconhecimento mais elementar sobre as instituições da República.

"Nós também não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas para o nosso Brasil. Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos."

Bom, se tem alguém barbarizando é o presidente da República. Porém, a declaração é ridícula de tão descabida. Bolsonaro parece não saber que o presidente do Supremo não é chefe dos ministros. Ele é eleito para administrar, definir a pauta e representar institucionalmente o Poder. Mas, ele não tem prerrogativa de interferir em sentenças, não pode influenciar decisões. Ele não pode enquadrar ministro nenhum.

Bolsonaro não sabe o que diz.

Ele parece pensar que os ministros do STF estão para o presidente do Supremo assim como os ministros dele estão para o presidente da República, ele podendo dar ordens e demitir. Claramente, Bolsonaro não sabe o que diz, o que faz ou o que pede. Semelhante sujeito é presidente.

Manifestantes na Praça Portugal, em Fortaleza, por volta de 12h30min de 7 de setembro de 2021(Foto: JULIO CAESAR/O POVO)
Foto: JULIO CAESAR/O POVO Manifestantes na Praça Portugal, em Fortaleza, por volta de 12h30min de 7 de setembro de 2021

Bolsonaro disse ainda: “O Supremo Tribunal Federal perdeu as condições mínimas de continuar dentro daquele Tribunal.” Seja lá o que a frase quer dizer exatamente, perdeu as condições por quê? Acho que há posições equivocadas do Supremo. Mas, por isso ele perde as condições?

O presidente fala como se o STF tivesse feito grave ofensa à Constituição. Por que mesmo? Porque não toma a decisão que ele gostaria? Ocorre o seguinte: a palavra final sobre interpretação da Constituição não é do presidente da República. Sabe de quem é? Do Supremo Tribunal Federal? Entre a interpretação de Bolsonaro, a minha e a do Supremo, sabe qual prevalece? Isso mesmo.

A lição é de Rui Barbosa: o Supremo pode cometer erros. Certamente o faz. Porém, no ordenamento jurídico, é garantida a ele a prerrogativa de ser o último a errar.

O presidente parece querer para ele esse papel. Bolsonaro faz questão de ser o último a errar.

Ouça o podcast Jogo Político:

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