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Oposição não tem o poder de mobilização de Bolsonaro
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Oposição não tem o poder de mobilização de Bolsonaro

A oposição a Bolsonaro está maior, mas segue tão dispersa e desorganizada quanto sempre. Não há fator de unidade, não há elemento aglutinador — nem mesmo o contraponto ao presidente
Tipo Opinião
Protesto terá agremiações de todo o espectro político, e usará cores da bandeira e hino nacional (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Protesto terá agremiações de todo o espectro político, e usará cores da bandeira e hino nacional

Os protestos do último domingo não se compararam aos de 7 de setembro, e estava meio óbvio que seria assim. O PT e outras forças não aderiram à mobilização comandada pelo Movimento Brasil Livre (MBL). São duas das forças de oposição que não se toleram e não se juntam. Mesmo com todos esses grupos unidos já seria difícil fazer frente à força demonstrada pelo presidente Jair Bolsonaro. Pela força da máquina federal, mas não apenas isso. Atribuir apenas a esse fator seria fechar os olhos para a natureza da base do presidente. Ele tem hoje a base política mais fiel e fanática do Brasil, disparadamente. Os apoiadores o seguem fielmente, mesmo no mais absoluto disparate. Justificam qualquer atitude que tome, qualquer mesmo. Com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também é assim? Há semelhanças, mas Bolsonaro leva a outro patamar. Bolsonaro perdeu muito apoio, sem dúvida. Hoje, tem bem mais pessoas contra que a favor dele. Porém, entre os que ficam há bastante gente disposta a ir a rua. Ficaram os mais aguerridos e radicais. Já os opositores de Bolsonaro são uma força dispersa, sem nenhum elemento catalizador. Unidas, as forças de oposição teriam problemas para equiparar a força de Bolsonaro. Separadas, a chance é zero. Essa divisão praticamente elimina as chances de Bolsonaro sofrer impeachment.

A oposição a Bolsonaro está maior, mas segue tão dispersa e desorganizada quanto sempre. Não há fator de unidade, não há elemento aglutinador — nem mesmo o contraponto ao presidente.

A oposição erra em não se unir?

É da natureza da política que adversários façam alianças circunstanciais contra um inimigo que considerem prioritário derrotar naquele momento. É muito comum que alguém acaba se dando mal — vide os Estados Unidos, que turbinaram Saddam Hussein.

Porém, também é da natureza da política que sejam estabelecidos limites. É comum que as forças definam: com aquele ali não nos juntamos. É desse modo que o PT não aceita conversar com o MBL, em manifestações que considera a reprise daquelas que criaram as condições para derrubar Dilma Rousseff (PT). Assim como muitas forças que passaram a se opor a Bolsonaro não toleram o PT. Se tiverem de escolher entre Bolsonaro e Lula, muitas dessas pessoas que protestam contra o presidente são capazes de votar nele de novo. E da mesma maneira como Ciro Gomes (PDT) foi ao ato na Avenida Paulista, mas em 2018 estava em Paris para não fazer campanha para Fernando Haddad (PT) no segundo turno.

Todos esses grupos têm divergências mútuas. E todos colocam hoje como prioridade derrotar o presidente. Se estarão dispostos a abraçar uns aos outros nessa empreitada dependerá do quanto querem ver Bolsonaro derrotado e do tamanho da ojeriza que mutuamente alimentam.

Esses julgamentos dependem dos valores, da história em comum dessas personagens e desses grupos.
Porém, esse é o contexto que faz com que, com popularidade ridícula, desempenho sofrível, geração de crises em escala industrial, economia depauperada, politicamente esvaziado e com o saldo catastrófico da pandemia, ainda assim Bolsonaro seja viável para a reeleição. Porque está organizado e coeso com aqueles que estão com ele. É muito além do que a oposição a ele pode dizer.

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