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Por que o medo do socialismo deve assustar
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Por que o medo do socialismo deve assustar

Ao longo da história, muitos regimes ditatoriais se estabeleceram valendo-se do medo de que os comunistas implantassem um regime autoritário — exatamente o que os anticomunistas acusavam os adversários de quererem fazer
Tipo Opinião
Funcionária das Nações Unidas higieniza os microfones no púlpito após o discurso de Bolsonaro, único chefe de Estado do G20 que disse não ter se vacinado (Foto: Eduardo Munoz-Pool / Getty Images / AFP)
Foto: Eduardo Munoz-Pool / Getty Images / AFP Funcionária das Nações Unidas higieniza os microfones no púlpito após o discurso de Bolsonaro, único chefe de Estado do G20 que disse não ter se vacinado

O Brasil estava à beira do socialismo, ficamos sabendo pelo discurso do presidente Jair Bolsonaro. É uma análise comedida perto da que fazem aliados dele, que falam de décadas de comunismo no País. O Brasil era comunista com o PT, para alguns era comunista com o PSDB. Outros incluem uma contagem de décadas de comunismo, na qual até a ditadura militar é abrangida. Há os que falam de cinco séculos de comunismo. Chega ao Pedro Álvares Cabral, aquele precursor do Karl Marx. Há um neoconservadorismo brasileiro que vê comunismo em toda parte. Esses acabam por ser os mais elogiosos ao comunismo, no fim das contas. Porque muitos críticos apontam que o regime não deu certo em parte alguma. Porém, fica difícil argumentar que o comunismo não dá certo se ele controla o mundo. Ainda mais se segue assim por décadas e décadas.

Há muita ignorância conceitual, por certo. Porém, a ladainha anticomunista é um perigo e já fez estragos no Brasil e mundo afora. Por causa do medo de uma ditadura comunista, o Brasil já teve duas ditaduras anticomunistas. Getúlio Vargas forjou um plano comunista para instalar a ditadura do Estado Novo.

A ditadura militar também se valeu do espectro do comunismo, desde a instalação até o ocaso, com o frustrado atentado do Riocentro. Era verdade que os comunistas brasileiros queriam implantar uma ditadura. Mas, nem de longe tinham condições para chegar perto disso. Não havia ameaça real, vide a Intentona Comunista de 1935. E, o que fizeram os “democratas” que queriam evitar as ditaduras comunistas? Implantaram suas próprias ditaduras? Ora, mas que vantagem. Quem disse que era-se obrigado a optar por uma das ditaduras? Em nome de quem se tomou a decisão?

Mundo afora, também houve exemplos preocupantes. Adolf Hitler chegou ao poder pelo voto, mas conseguiu poderes excepcionais com o Estado de exceção estabelecido após o incêndio do Reichstag, o parlamento alemão. Mesmo sem evidências e com confissão em contrário, os nazistas jogaram a culpa nos comunistas.

O que veio antes de Bolsonaro

Bolsonaro produziu mais um festival de fanfarronices. Faz isso no Brasil dia e noite. Anualmente faz para o mundo ver e sentir vergonha alheia — no caso, alheia para eles, não para nós. Quando Bolsonaro diz que o Brasil estava à beira do socialismo e que o País se transformou a partir de 1º de janeiro de 2019, fica parecendo que antes dele o presidente era um grande adversário. Bolsonaro gosta da narrativa de que, imediatamente antes, estava o PT, estava Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, quem passou a faixa presidencial para ele foi o Temer. O Michel Miguel. O amiguinho que, há duas semanas, ajudou Bolsonaro a escrever a carta na tentativa de atenuar os efeitos da enrascada institucional em que se meteu. O presidente que agora diz receber o País à beira do socialismo está encangado com o antecessor.

Ah, mas o socialismo de que Bolsonaro falava era antes. Era na época do PT, na época do Lula. Sim, o Brasil estava à beira do socialismo, com os bancos batendo recordes de lucros. Só nos oito anos de Lula, lucraram 200 bilhões em um real muito mais valorizado que hoje. Pense num socialismo.

Barateamento dos alimentos

O Brasil está acostumado aos disparates de Bolsonaro, mas lá fora a retórica choca. Agora, o que mais me admira ele ter a coragem de falar é sobre o barateamento da produção de alimentos. No momento em que a inflação chega aos supermercados de forma implacável, falar em barateamento beira o deboche. Aliados até discutem de quem é a responsabilidade pela disparada dos preços. Mas, o aumento é real e não é apenas o lucro nos pontos de venda. O aumento é desde a origem.

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