Facções e motim: o primeiro debate de 2022 no Ceará
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Há uma semana, o Ceará assiste à mais evidente, até agora, prévia do debate eleitoral de 2022. Começou quando, na semana passada, o governador Camilo Santana (PT) investiu contra a oposição: “raivosa”, “intolerante”, “individualista”, “que só pensa nela”, e ainda: “Todo dia é fake news nas redes sociais do governador, todo dia. E eu digo a eles que a minha resposta é continuar trabalhando cada vez mais pelo povo de Fortaleza do Ceará. Me desculpa o desabafo, mas é impressionante.”
O deputado federal Capitão Wagner (Pros) não foi citado nominalmente, mas, como pré-candidato já anunciado a governador pela oposição, respondeu a Camilo no sábado, 18. “É fake news ou é verdade que facções mandam no Ceará? É fake news ou verdade que estão expulsando moradores das periferias? A segurança está sob controle do governo ou das facções?”
Na terça-feira, 21, partiu do secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, a mais dura reação do governo. Afirmou que as facções estavam debilitadas antes do motim de policiais em fevereiro de 2020, e elas se reorganizaram a partir dali. "Capitão Wagner sabe que estimulou tudo isso", disse ao O POVO na terça-feira. Ele afirmou ainda que o Capitão atua para desestabilizar a segurança do Estado. "Ele enaltece as facções, em vez de enaltecer o grande trabalho da Polícia."
Ao O POVO, Wagner respondeu, não com menos virulência. "Pergunta ao secretário quem fez acordo com as facções nas eleições passadas pra ganhar a eleição (ele sabe muito bem). Isso sim é enaltecer as facções. Eles não só enaltecem, mas são parceiros e aliados." O Capitão disse ter telefones grampeados e ser seguido pela inteligência da SSPDS. E sugeriu que Caron se inspirasse no trabalho de Mauro Albuquerque, da Administração Penitenciária. "O secretário Mauro fala pouco e age muito. Por enquanto, o secretário de Segurança tem falado pouco e feito menos ainda."
Wagner acabou por acender uma futrica interna no governo, e Mauro veio a público depois do inesperado elogio do Capitão. "Luto diariamente para combater o crime, controlar os presídios, e vejo algumas pessoas trabalhando no sentido contrário, inclusive muitas delas nunca estiveram arriscando a vida para prender um bandido sequer e ficam jogando pra platéia, além de enaltecendo as facções ao invés de valorizar e incentivar os nossos policiais. Isso é um desserviço para a segurança pública e um crime contra o povo cearense."
O ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), pré-candidato da base aliada a governador, entrou na briga e disse que Wagner usa a "mofada fórmula da demagogia, oportunismo eleitoreiro e politicagem barata."
São estes os primeiros temas de 2022: facções criminosas e motim.
Controle pedetista e um presidente um pouco menos prestigiado
O Anuário do Ceará 2021-2022 traz mais uma vez o ranking de influência na Câmara Municipal de Fortaleza. O levantamento reflete a correlação de forças do legislativo: o controle é pedetista. Os quatro mais influentes são: Antonio Henrique (PDT), com 18 votos, Gardel Rolim (PDT), líder do governo, com 12, e Adail Júnior (PDT) e Lúcio Bruno (PDT), cada um com 7 menções. Os dois primeiros estão em posições cujos ocupantes costumam ser apontados como os mais influentes: presidente e líder do governo. Porém, as menções a Antônio Henrique caíram de 27 para 18. Reflexo de uma nova composição da Câmara, mais dividida e com relações mais esgarçadas após as últimas eleições. Adail é um dos parlamentares que melhor transitam nos bastidores e Lúcio Bruno é o homem de Roberto Cláudio na Casa. A seguir no ranking estão dois opositores — Carmelo Neto (Republicanos) e Márcio Martins (Pros), ao lado do petista Guilherme Sampaio, todos com 6 votos.
O ranking de influência é feito com voto secreto dos próprios parlamentares. Cada um pode indicar três vereadores que consideram influentes, excluídos eles próprios. Foram votados 32 dos 43 vereadores. A lista completa está no Anuário do Ceará 2021-2022, que será lançado na segunda-feira, 27, às 18 horas, em cerimônia virtual, transmitida ao vivo pelas mídias do O POVO.
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