Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Ciro Gomes (PDT) tirou a candidatura da suspensão. Não conseguiu barrar a PEC dos Precatórios, mas mostrou força no partido. No primeiro turno, o PDT deu 15 votos a favor da proposta do governo Jair Bolsonaro e 6 contra, enquanto 3 não votaram. Ciro protestou, suspendeu a candidatura. Foram “dias tensos” na legenda, como o ex-governador cearense definiu. Após muita conversa, o PDT deu 19 votos contra e 5 a favor da PEC. Ciro teve ainda vitória doméstica. No Ceará, o PDT inteiro foi contra a PEC. E o Estado, contando todas as bancadas, foi aquele que deu menos votos para a aprovação: 7 a favor e 15 contra.
No fim das contas, o governo venceu do mesmo jeito. Se, no primeiro turno, os pedetistas foram decisivos, no segundo turno, a articulação de Arthur Lira (PP-AL) foi menos arriscada. A vantagem de 4 votos da primeira votação virou 15 votos na segunda. Resultado de um quorum maior, do esforço para faltosos irem votar. Ainda assim, Ciro recebeu sinalização do partido. Não sem deixar alguns parlamentares contrariados.
No retorno, Ciro voltou batendo. Diz não poder ser “traidor como Bolsonaro, hipócrita como Lula ou oportunista como Moro”. Aliás, o ex-juiz recebeu atenção articular de Ciro, que o chamou de “calouro politiqueiro”, “figura politicamente menor”, que “se acumpliciou como ministro de um governo corrupto e corruptor” e “se apequena ainda mais chegando como um cachorrinho com rabinho abanando em busca de carícias fáceis de um partido nada puro”.
Ciro critica Moro desde antes de Lula ser preso. Agora, há outros sentidos. Moro é séria ameaça a tirar Ciro do terceiro lugar e da condição de mais plausível alternativa à polarização Lula-Bolsonaro.
Bolsonaro no partido que foi fundamental para Lula
O presidente Jair Bolsonaro deverá se filiar ao Partido Liberal (PL). A sigla, curiosamente, foi a mais importante aliada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição de 2002, quando o petista chegou à Presidência. Aliança, também, bastante polêmica na esquerda na época. Era o aceno, ao mesmo tempo, a grupos conservadores e religiosos — pois a Igreja Universal tinha o PL como braço político. Era do PL que vinha o vice de Lula, o empresário José Alencar. Aliás, a aliança com representante do empresariado foi determinante na construção da imagem de Lula naquela candidatura.
Depois, Alencar e uma dissidência fundaram o PMR, que depois virou PRB e hoje é o Republicanos. Alencar foi eleito vice de Lula no segundo mandato pelo PRB. Passou a ser a sigla preferencial da Igreja Universal. Já o PL se fundiu ao Prona e virou PR. Recentemente, voltou a ser PL.
Tríade do mensalão
Com Bolsonaro filiado ao PL, cogita-se que o PP deverá ficar com a vice. Uma chapa centrão puro-sangue. As duas siglas formavam a “tríade do mensalão” ao lado do PTB, outra legenda aliada do governo — pelo menos era até recentemente, quando o presidente da sigla, Roberto Jefferson, disse, em carta da prisão, que Bolsonaro e o filho Flávio “se viciaram em dinheiro público”.
Comandar o atraso
É célebre a definição atribuída a Fernando Henrique Cardoso segundo a qual PSDB e PT eram as mais sólidas e consistentes estruturas partidárias que a democracia brasileira construiu. Por força das rivalidades e contingências, a quase aliança que se projetou para a eleição de 1994, que teria Lula como candidato a presidente e Tasso Jereissati de vice, nunca saiu. De modo que os partidos estavam destinados ao enfrentamento para definir quem “comandaria o atraso”. Ou seja, quem governaria conduzindo e negociando com um retalho de legendas fisiológicas, sempre adeptas do poder e ávidas por benesses. PT e PSDB eram, na visão de FHC, vanguardas que conduziam esse “atraso”.
Com Bolsonaro, não há vanguarda. Bolsonaro veio de dentro desse atraso e com ele se confunde. Merecem-se uns aos outros.
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