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No Enem sob Bolsonaro não se fala em ditadura
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

No Enem sob Bolsonaro não se fala em ditadura

O tema, que foi plataforma política de Bolsonaro como deputado, estava presente em 100% das provas do Enem. Depois que ele virou presidente, não caiu mais em nenhuma. É uma lacuna inaceitável, um período tão importante na formação do Brasil atual. Mas, quer saber, sob Bolsonaro é melhor não abordar o tema. Ou sabe lá o que pode vir
Tipo Opinião
Bolsonaro surge na política como defensor de torturadores (Foto: ALAN SANTOS/PR)
Foto: ALAN SANTOS/PR Bolsonaro surge na política como defensor de torturadores

O Enem com começo de cara do governo Jair Bolsonaro ainda não está bem ao gosto do presidente. Ele disse ontem, que ainda teve questão com ideologia na prova. Se ele e o ministro da Educação, Milton Ribeiro, pudessem interferir, isso não teria ocorrido. Não dá para negar, o Enem teve mais uma vez uma prova de qualidade. O vilipendiado Estado brasileiro resiste, a despeito de governos que vêm e vão. É disso que são feitas as instituições de um País. Um governo pode tentar ter o controle total, mas não é possível transformar e ter controle total das políticas de governo amplas. Isso passa necessariamente pelo quadro de funcionários. Não à toa se ataca tanto os servidores públicos e se tenta reduzir o quadro fixo, que se mantém ao longo de vários mandatos. Todo governante gostaria de ter um Estado mais à sua feição. Mas, governantes passam e o Estado fica, por isso este último não deve ter a feição do gestor de ocasião, independentemente do que queira Bolsonaro, ou qualquer dos antecessores ou sucessores.

O governo Bolsonaro não conseguiu acabar com o Enem ou deixar a prova com a cara dele. Mas, colocou seu dedo na prova, sim, numa intervenção grave. Desde que Bolsonaro tomou posse, a prova não trata de ditadura militar. Antes, o assunto caiu em todas as edições desde que foi instituído o atual formato, em 2009. O período de 1964 a 1985 é crucial na formação do Brasil atual. É absurdo que, pelas posições políticas do governante de ocasião o tema seja banido. Bolsonaro reclama que a prova tem ideologia? Ele a ideologiza de forma absurda, pelo silêncio do tema. Três edições seguidas sem falar na ditadura, tema presente nas dez anteriores.

É célebre a frase segundo a qual “no Brasil, até o passado é incerto”, atribuída ora a Pedro Malan, ora a Gustavo Loyola, ambos economistas. A frase é boa e obviamente tem tom satírico. Evidentemente, não é bem assim. O passado do Brasil é claro, até mesmo sobre tempos obscuros. Houve uma ditadura que perseguiu e matou, não adianta um governo querer esconder isso nos exames. Um governo incerto não é capaz de apagar as evidências de um passado tão triste e documentado.

A história política de Bolsonaro, esse que agora fala em liberdade, é de saudosismo da ditadura, defesa da tortura e de torturadores, de fuzilamento de presidente da República, veja só. A ditadura está excluída das provas no atual mandato por injunção política.

Quer saber, talvez assim seja melhor. Sabe lá o que cairia sobre o assunto numa prova neste governo.

Sem Marx, com Engels

Chamou atenção na prova uma questão que trata de texto de Friedrich Engels, coautor do Manifesto Comunista, ao lado de Karl Marx. Segundo o Estado de S.Paulo, essa era uma das questões que haviam sido suprimidas. Houve 24 questões consideradas “inadequadas” que foram retiradas. Porém, esta foi uma das 13 que foram reinseridas por uma questão de calibragem do nível de dificuldade do exame.

Camilo e o Réveillon e o Carnaval

No clima de “a pandemia acabou”, o Brasil se prepara para as festas de fim de ano e projeta um Carnaval daqueles para a volta da festa. O governador Camilo Santana (PT), porém, foi das poucas vozes no momento a se contrapor às festividades. A condição, ele defende, para haver eventos hoje é o controle de acesso de vacinados. Mas, como se controla um Carnaval?

O argumento é pertinente, mas o debate é mais difícil agora. Com os casos em queda, a pressão será grande. Sobretudo com outros lugares do Brasil sinalizando que liberarão as festas.

Querer que tenha Carnaval eu quero demais. Achar que o governador está certo ou errado vai além do debate político e de opiniões. Como tudo mais em relação à pandemia, a decisão deve ser das autoridades de saúde. E concordo que se deva primar pela prudência.

Alguém gostaria de sair do lockdown para entrar em eventual novo lockdown.

Ouça o podcast Jogo Político: 

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