Castelão foi exceção entre superfaturamentos e atrasos, mas isso não exclui risco de crime
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Castelão foi exceção entre superfaturamentos e atrasos, mas isso não exclui risco de crime
Estádio saiu mais barato que o previsto e ficou pronto antes do prazo, mas nada disso prova que não houve corrupção. Contudo, para ter existido, esquema precisa ter sido muito competente — criminosamente competente
Em 7 de maio de 2011, eu estava na primeira semana como redator diário da coluna de Política do O POVO e escrevi a respeito dos preparativos para a Copa do Mundo: "Maior espetáculo da Terra pode virar a maior roubalheira do Brasil". O raciocínio era simples: "Se uma fração dos investimentos previstos para a Copa do Mundo de 2014 sair do papel, o Brasil terá conhecido o maior programa de obras de sua história. Uma oportunidade extraordinária de mobilizar recursos que, de outra forma, dificilmente seriam viabilizados. Mas pode ser, também, uma porta aberta para a maior farra de corrupção que o País já conheceu - e olha que isso não é coisa pouca, não."
A farra de corrupção ocorreu, de fato. No caso do Distrito Federal, os ex-governadores José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli foram presos por acusações envolvendo as obras do estádio Mané Garrincha. No Rio de Janeiro, o ex-governador Sergio Cabral foi preso por denúncias relacionadas às obras do Maracanã. Empreiteiros também foram presos.
O Maracanã tinha previsão de custar R$ 700 milhões e saiu por R$ 1,2 bilhão. O Mané Garrincha custaria R$ 670 milhões e saiu por algo em torno de R$ 1,5 bilhão. O Castelão, porém, teve história diferente. Tinha previsão de sair por R$ 617 milhões, mas não apenas não teve estouro de orçamento como saiu mais barato: R$ 518,6 milhões. De acordo com a ONG Play The Game e o Portal de Transparência da Copa, foi o estádio mais barato entre os que foram construídos ou passaram por grandes reformas para as Copas de 2002, 2006, 2010 e 2014.
E, enquanto os prazos em regra não foram cumpridos na maioria dos estádios, o Castelão ficou pronto antes do previsto. Foi o primeiro a ser entregue para a Copa de 2014, inaugurado em 16 de dezembro de 2012. Na coluna que citei no início, eu escrevia justamente que um dos caminhos para a corrupção era o atraso de obras. Diante da urgência para concluir trabalhos incompletos às vésperas da Copa, eventuais gastos extras seriam aceitos mais facilmente.
Isso não exclui a possibilidade de ter havido crime, pagamento de propina, direcionamento de licitação. Para isso ter ocorrido, seria necessário um nível muito grande de organização. A Polícia Federal menciona R$ 11 milhões em propina. Numa obra de mais de meio bilhão, é algo possível, teoricamente, de ser camuflado. Até porque a denúncia faz referência não apenas à obra, mas também à operação e manutenção do estádio. Todavia, seria necessário que já estivesse embutido no preço previsto inicialmente, seguir o projeto à risca. E fazer uma obra mais barata que as outras, para comportar esses pagamentos extras. E cumprir prazos de forma rigorosa. Não é, nem, de longe, o padrão dos escândalos da Copa.
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