Ciro diz duvidar da candidatura de Moro, mas investe contra ex-juiz
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
No evento de ontem organizado pelo PDT para reafirmar a convicção na candidatura de Ciro Gomes (PDT) a presidente, o ex-governador do Ceará priorizou o alvo previsível: Sergio Moro. Ele ressaltou que, desde Fernando Collor, os governos se repetem na economia, ações sociais e nas práticas políticas, na opinião dele. Bateu no PSDB, em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e em Jair Bolsonaro (PL). Mas, para Moro dedicou mais ênfase. Chamou-o de "inimigo da República".
"Da glória efêmera como juiz e agora candidato a se derreter em contradições, mentiras e despreparo", ele pontuou sobre como vê a candidatura de Moro. O ex-juiz tem aparecido à frente do pedetista nas pesquisas. Por vezes em empate técnico. Porém, ocupa esse espaço de quem não é nem Lula nem Bolsonaro. Do ponto de vista simbólico, aparecer em terceiro ou em quarto muda o ânimo em relação às perspectivas.
Na breve entrevista coletiva que se seguiu ao discurso — e que começou com Ciro se desentendendo com repórter do site Brasil 247, veículo que definiu como "panfleto do Lula" — Ciro disse duvidar da candidatura do ex-juiz. "Eu não vejo o Sergio Moro na disputa".
O discurso foi de quem está vendo sim. E enxergando Moro na frente dele.
Os compromissos de Ciro
Ciro Gomes havia anunciado que o discurso seria forte. Falta de ênfase nunca foi o problema dele. O evento teve tom emocional, onde provavelmente há o toque do marqueteiro João Santana. Do ponto de vista sistemático, fez diagnóstico de problemas, criticou os adversários e apontou tópicos para possíveis soluções. De melhor, assumiu alguns compromissos. São polêmicos, mas servem para o eleitor saber o que esperar se for eleito: taxação de grandes fortunas, tributação de lucros e dividendos, revisão da reforma trabalhista, fim da reeleição, renda mínima universal, que receberia o nome do ex-senador Eduardo Suplicy (PT).
O que há de novo
Ciro tem alguns desafios. Talvez o maior seja apresentar novidades. Muitas coisas que ele diz, críticas que faz, ele repete há muito tempo. É positiva a coerência. Porém, o discurso de Ciro, a forma como expõe, faz parecer a quem o escuta que ele está dizendo a mesma coisa de outras tantas vezes. Ciro é candidato pela quarta vez. A primeira faz 24 anos. O que ele fará para convencer quem nunca votou nele a votar agora? Não é que Ciro não traga coisas novas. Alguns compromissos citados acima são novos. Talvez quando aprofundar essas propostas traga o ar de novidade à candidatura.
Ciro e os mesmos erros
Em alguns aspectos, Ciro repete os mesmos erros de 20 anos atrás. A adrenalina o atrapalha. Na breve entrevista coletiva, já na primeira pergunta, desentendeu-se com Luís Costa Pinto, do Brasil 247. Isso diante de pergunta previsível, nada demais. É o tipo de entrevero em que o Ciro de 2020 se envolvia.
Crítica às alianças
Ciro foi questionado sobre alianças, e ironizou: ”Aliança é bom, especialmente quando você despolitiza a discussão e faz uma tentativa de resolver a eleição entre os políticos em conchavo, como está acontecendo no Brasil de novo.”
Não comentou a aliança governista que sustenta Camilo Santana (PT) no Ceará, e que vem desde Cid Gomes (PDT), irmão de Ciro. Sem novidade, Ciro há mais de década critica nacionalmente as mesmas alianças feitas pelo grupo dele no Ceará, com mesmas personagens, inclusive.
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