Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
"Brincadeira" de Bolsonaro é ofensiva e remete aos imigrantes que escaparam da morte por sede ou fome. Pau de arara também é forma de se referir a método de tortura. Ganha outro significado na boca de quem defende torturador
Foto: Sara Maia, em 14/09/2011
Pau de arara em Juazeiro do Norte. Pessoas transportadas até sentadas nos tetos dos caminhões
Não me admira que Jair Bolsonaro (PL) não saiba onde Padre Cícero nasceu. Francamente, surpreso eu ficaria era se ele soubesse. A dimensão da ignorância de Bolsonaro ainda é desconhecida. Depois de três anos como presidente, não sabia o que era o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) — um órgão subordinado a ele. Quando soube, pior para o Iphan. Fez uma mudança de comando suspeita, no mínimo. A ponto de a Justiça Federal ter afastado a presidente do órgão, que teria sido colocada lá para atender a interesse do empresário Luciano Hang, da Havan. Mas, voltando ao Padre Cícero.
Na mesma live em que chamou Padre Cícero de pernambucano, o presidente cobrou dos auxiliares que dissessem de onde o sacerdote era. "Está cheio de pau de arara aqui e não sabem que cidade fica padre Cícero?" Bolsonaro gosta de fazer brincadeiras sem graça com nordestinos. Reforça estigmas. Mas, usar pau de arara tem uma carga extra. E fica pior na boca do presidente.
Sou cearense, filho e neto de cearenses. Aliás, minha ascendência é cearense até tão longe quanto há memória familiar. Em casa e nos meus círculos de amizade, nunca usamos o tratamento de “paus de arara” uns com os outros. Outros nordestinos podem dizer aí se é um hábito. O máximo que lembro é do uso como nome de casa de shows. Diferentemente até de falar que tem a cabeça grande — outra brincadeira que Bolsonaro faz de forma recorrente. Vejo cearenses fazerem essa última piada com os íntimos. Com os íntimos. Aquela coisa de que nós podemos falar da nossa família, dos nossos amigos, mas os outros não podem. Usar pau de arara é diferente.
Pau de arara é o símbolo de uma tragédia social, econômica e política. A expressão remete aos veículos nos quais as pessoas eram transportadas quando praticamente obrigadas a abandonar o lugar onde nasceram, porque não foram dadas condições para que sobrevivessem no clima da região. Eram transportadas em cima de caminhão, nas tábuas sobre as quais eram levados pássaros. Daí a expressão. Paus de arara eram os veículos nos quais as pessoas iam para fugir da morte e da fome, para salvar a si e aos filhos. Não, não tem graça e nem é piada. Talvez para os sudestinos seja algo bacana, porque essa é forma pela qual chegaram lá grande parte dos melhores braços que construíram a industrialização de São Paulo e Rio de Janeiro. Construíram Brasília, extraíram a borracha nos seringais do Norte. Também é a forma como romeiros se deslocam para manifestar devoção, e também chega a ser usado para transportar estudantes, de forma absurdamente insegura.
A expressão pau de arara ganha outro significado na boca de Bolsonaro, com o risinho no canto de boca, porque há também outra acepção. Pau de arara é também um método de tortura. Para um simpatizante de torturador e entusiasta da ditadura brasileira, o uso da palavra é macabro.
Alguns podem dizer que estou de “mimimi”. Acho o uso da palavra por Bolsonaro profundamente ofensivo. Mas, sinceramente, concordo que é até pequeno perto de outras coisas. Tristemente, há mesmo motivos muito mais graves para criticar o presidente. O que não torna a ofensa irrelevante.
Cid Gomes diz que MDB de Eunício será procurado para aliança
O senador Cid Gomes comandou a reunião do PDT na qual foi manifestado apoio a Camilo Santana (PT) para senador e reforçado o apoio a Ciro Gomes (PDT) para presidente da República. Ele destacou os partidos que são aliados e com quem os pedetistas querem estar coligados nas próximas eleições do Ceará, entre as maiores bancadas no Congresso Nacional. A lista de Cid inclui o MDB, do senador Eunício Oliveira.
Eunício foi opositor de Camilo Santana em 2014, mas em 2018 aderiu à base governista. Ele foi candidato a uma vaga ao Senado, ao lado de Cid Gomes. Porém, a aliança foi informal. A contragosto de Eunício, o MDB não constou na chapa oficial. Cid foi o mais votado e Eunício ficou em terceiro, atrás de Luiz Eduardo Girão (então Pros, hoje Podemos). Assim, Eunício não conseguiu se reeleger senador. E responsabiliza suposto boicote da família Ferreira Gomes, embora siga aliado de Camilo Santana.
Ao falar sobre o MDB, Cid chegou a se confundir sobre a relação com o partido na eleição de 2018. "Sobre o MDB, não há nenhum veto, embora o MDB nas últimas eleições não tenha sido aliado. Aliás, na última foi", disse, completando: "O MDB será um partido procurado."
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