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Bolsonaro, Lula e Ciro: quem tem mérito pela transposição
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Bolsonaro, Lula e Ciro: quem tem mérito pela transposição

Obra atrasou uma década até agora, teve erros de projeto e estouro de orçamento. Há briga de paternidade, mas os problemas ninguém assume. Eles, assim como as virtudes, começaram com Lula e Ciro. E chegam a Bolsonaro, que tem méritos, mas também seus erros
Tipo Opinião
Barragem de Jati, que recebe transposição do rio São Francisco no CE (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Barragem de Jati, que recebe transposição do rio São Francisco no CE

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse ontem que irá concluir a obra da transposição do rio São Francisco este ano. Ele certamente correrá para isso. A obra passou por quatro presidentes. Todos tiveram méritos, problemas, atrasos e erros. Essa é a história da transposição. A briga por paternidade é natural. É também injusta, politiqueira em vários aspectos, destaca determinados pontos e apaga outros. Comete omissões. É a forma pequena como a política é muitas vezes feita. Não tenho dúvidas de que Bolsonaro fará tudo possível para que a obra fique pronta até o fim do ano. Isso atende ao interesse público. Mas, um motivo para ele correr é que ele pode ser reeleito. Mas, pode não ser. Se não for, não vai querer que outro faça o que ele faz: diga que recebeu a obra inacabada e está concluindo. Acima de tudo, ele não vai querer que, na hipótese de o eleito ser Luiz Inácio Lula da Silva (PT), possibilidade que as pesquisas apontam, o petista possa vir a dizer que concluiu a transposição. Porém, essa história é longa, tem muitas personagens para além de quem conclui a obra. Tanto nos acertos quanto nos erros.

Quem fez a transposição?

Ciro Gomes (PDT) não era ministro da Integração Nacional na época em que a obra da transposição começou. Ele deixou o cargo em 30 de março de 2006. A ordem de serviço foi assinada por Geddel Vieira Lima (aquele preso na década seguinte com malas de dinheiro em um apartamento) em 7 de maio de 2007. Porém, acho justo dizer que Ciro talvez seja a personagem mais importante na história dessa obra. Ele comprou as brigas. As primeiras com a própria área ambiental do PT. Dentro do próprio governo, pelo licenciamento. Aliás, antes. Convenceu Lula a fazer a transposição — na campanha, havia hesitação. Transcorreu enorme briga pública, protestos, greve de fome de bispo. Não houvesse alguém no governo com a disposição dele, não haveria obra. Foi também ele quem conduziu a formulação do projeto. Ciro costuma dizer que começou a transposição. De fato, começou com ele. Se a obra começa no projeto — e começa — ele deu os fundamentais passos iniciais. Mas, se pensar em obra como construção, parte física e visível, aí não. Ciro não precisa amplificar o próprio papel para ter reconhecido o mérito.

E o presidente era Lula, que bancou a decisão. Sem respaldo a Ciro, nada também andaria. Depois, veio Dilma Rousseff (PT). Em 2007, a estimativa era entregar a primeira parte da obra em 2010, com Lula. E concluir em 2012, quando Dilma era presidente. Mas, o andamento teve problemas. Veio o impeachment e a primeira parte da transposição só foi concluída em 2017, quando o presidente era Michel Temer (MDB). Era prevista para o fim de 2018 a chegada das águas ao Ceará, com Temer. Dizia-se que estava bem perto. Só saiu em 26 de junho de 2020, com Bolsonaro. Não estava tão perto do fim assim.

Méritos e problemas

Há disputa de paternidade, mas a transposição teve muitos atrasos, erros de projeto e estouro de orçamento. Essas ninguém assume. Inicialmente, a estimativa era em torno de R$ 5 bilhões, agora o governo Bolsonaro fala em mais de R$ 14 bilhões. Os problemas também atravessam governos. E, assim como o mérito por concluir, chegam a Bolsonaro. O que ele fazia no Ceará esta semana? Não era inauguração. Era o reinício do bombeamento numa barragem onde ele havia estado em 2020. E na qual tubulação se rompeu menos de dois meses depois. A obra foi mal feita.

Segundo o Ministério da Integração Nacional, no primeiro semestre de 2019, o eixo norte estava 97% concluído e o leste, 97,6%. A previsão de a água chegar a Jati, pelo eixo leste, era o segundo semestre de 2019. Ficou para o fim do primeiro semestre de 2020.

Daquela medição de 2019 para cá, transcorreram quase três anos. Faltavam 3% e a obra ainda não chegou a 100%. O governo Bolsonaro tem o mérito de fazer a água correr no eixo norte, dar andamento e colher resultados. Mas, houve um alicerce para isso. Se a obra fosse toda feita no ritmo do governo Bolsonaro — 3% em três anos —, levaria 100 anos para ficar pronta.

Foto do Érico Firmo

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