Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Governador chegou ao cargo visto como alguém subordinado aos líderes do grupo, mas sai como governante que mostrou personalidade e desenvoltura na comunicação em tempos de redes sociais
O governador Camilo Santana (PT) se despede do cargo de forma que considero surpreendente. Analisarei hoje a pessoa do governador, o estilo, a personalidade e a postura no mandato. Amanhã farei uma avaliação do governo Camilo.
Pois bem, por que a surpresa a que me refiro sobre Camilo? Porque, para além das ações de governo, das quais trato amanhã, ele sai com uma marca pessoal forte, um estilo próprio e reconhecido tanto por quem gosta dele quanto por aqueles que não gostam e batem duro nele.
Por que considero isso uma surpresa? Porque Camilo chegou ao governo não pela força própria, mas pelo peso do grupo político. Era visto como quase um preposto dos Ferreira Gomes, alguém que foi escolhido por Cid Gomes e Ciro Gomes, como poderia ter sido qualquer outro. Não era alguém visto como propriamente carismático. E sai do governo como alguém que demonstra capacidade de comunicação, presença intensa nas redes sociais. Na pandemia, usou o contato constante e direto com a população.
Pode-se gostar ou não dele, mas Camilo mostrou-se um governador forte. Isso é uma surpresa ao se considerar justamente esse aspecto de o governador não ser o líder de seu grupo, de ter precisado se firmar. E fez isso em momentos de turbulência contínua. Creio que mesmo os críticos hão de reconhecer que o governador tomou medidas impopulares. Isso não é necessariamente bom, mas demonstra força e disposição de comprar desgastes quando julga as medidas necessárias.
Considero que Camilo hoje ficou maior e mais popular no Ceará do que são Cid e Ciro. Claro, os dois irmãos têm uma história. Não sei se isso irá se manter com ele longe da cadeira. Mas, me parece ter se firmado como o líder do grupo com maior aprovação. Isso é uma virada e tanto.
Isso passa pela postura dele em momentos difíceis. Passa pela forma de se comunicar. Cid terminou o governo muito aprovado por alguns, mas, ao mesmo tempo, um tanto desgastado com outros. Havia uma imagem de arrogância, de prepotência, que não me parece ser a de Camilo, a despeito das medidas impopulares que ele tomou, como apontei.
Na articulação política, Camilo radicalizou o estilo de Cid. Ampliou a base aliada, evitou atritos e reduziu arestas. O governo hoje é menos rejeitado. Cid procurou ser essa pessoa de diálogo, mas o fato é que, a partir de determinado momento, as rupturas foram se somando: Tasso Jereissati (PSDB), Luizianne Lins (PT), Eunício Oliveira (MDB)... Todos que se reaproximaram com Camilo — embora Luizianne hoje esteja insatisfeita com o rumo do PT.
Cid acreditava muito na capacidade de convencimento. Ele era aberto a dialogar. Mas, me parece que dialogava sempre pensando em convencer os outros e pouco aberto a ser convencido. Camilo se mostrou mais, como gosto de definir, jeitoso. Parece-me que Camilo foi o governador que Cid gostaria de ter sido, ao menos nesse aspecto.
Questão de legado
Essa avaliação, ao comparar Camilo e Cid, precisa levar em conta o legado. Aprofundo a análise amanhã, mas é fato que o hoje governador recebeu uma situação na educação e na economia que lhe permitiu avançar. Por outro lado, herdou problemas, o maior deles na segurança. Mas, de governo falo amanhã.
A estação e o Oitão Preto
Na inauguração da Estação das Artes, belo complexo cultural no Centro, a vice-governadora Izolda Cela (PDT) mencionou que não basta entregar o equipamento sem transformar a vida das pessoas que vivem na comunidade próxima. Discurso importante e que merece ser cobrado. A histórica estação João Felipe recebe um equipamento que impressiona. Ali ao lado fica a comunidade do Oitão Preto. Local pobre, com estigma de violência e que precisa, sim, de atenção e trabalho do poder público.
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