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A chuva e a popularidade do prefeito
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A chuva e a popularidade do prefeito

Chuva numa cidade não preparada adequadamente, como Fortaleza, afeta a popularidade de que está na Prefeitura — e que já não é boa
Tipo Opinião
IZOLDA Cela recebeu Sarto ontem para tratar de chuva (Foto: Reprodução / Twitter / Sarto)
Foto: Reprodução / Twitter / Sarto IZOLDA Cela recebeu Sarto ontem para tratar de chuva

Chuvas não costumam fazer bem para a popularidade de prefeitos em Fortaleza. A cidade, convenhamos, tem tempo ruim faça chuva ou faça sol. Depende de precipitações nas bacias hidrográficas que abastecem os principais reservatórios. Na recente seca que durou até 2017, a mais prolongada da história, a Capital esteve na iminência de passar por racionamento. Além disso, se faz sol, a cidade de muito asfalto e concreto e poucas árvores fica insalubre de tão quente. Mas, se chove, a estrutura urbana não está preparada para dar vazão à água.

Relatos do século XIX descrevem a cidade como uma das mais belas do Brasil. Não falo das praias, do que a natureza fez. Aquilo que o homem edificou era bonito. Uma cidade — obviamente inviável hoje — de ruas de areia alva. Fortaleza foi impermeabilizada, rios e lagoas foram aterrados e hoje não há para onde a água escoar. Quando chove, coitado de quem está na rua.

Felizmente a intensa chuva de quarta-feira ocorreu à noite. Se fosse durante o dia, com os pontos de alagamento, a cidade teria entrado em colapso. Congestionamentos, pequenas colisões, carros que dão defeito. Na quarta à noite, a situação ficou relativamente controlada em horário de pouco movimento. Quem estava na rua, porém, viveu momentos complicados.

Ao sair do O POVO, na rua Barão de Aratanha, deparei-me com carro que ficou retido no meio de um alagamento. Um carro 4x4 hesitava sobre passar pela água ou não. Se ele tinha dúvida, eu no meu carro, coitado, dei a volta e peguei a Aguanambi. Sabia que a recente obra, ao cobrir o canal, tinha construído quase um segundo canal paralelo, embaixo da avenida, para escoar a água. A chance de alagamento era bem menor. A drenagem, de fato, funcionou. (A solução é a mesma pensada para o alagamento histórico da Heráclito Graça. Falta dinheiro. A obra é estimada em coisa de R$ 60 milhões.) Sofrido estava mesmo para quem aguardava ônibus nas paradas. Até em casa, ainda deparei-me com mais um punhado de alagamentos e, na avenida dos Expedicionários, até um ônibus que ficou retido no alagamento.

Isso no percurso de pouco mais de 20 minutos. Ao se avançar para áreas próximas a rios, mais vulneráveis, o drama não é do trânsito, mas da moradia. Ainda pior para a população em situação de rua.

Os buracos e a cobrança ao poder público

Poucas coisas desgastam tanto os prefeitos junto à classe média quanto buracos nas ruas e avenidas. A situação das áreas de risco é mais grave, certamente. Mas, os buracos são mais recorrentes e espalhados. E área de risco não é problema de classe média, ela pensa.

Os buracos expõem problemas de pavimentação e são difíceis de ser resolvidos enquanto as chuvas não passam. Como pesquisa Opnus, divulgada pelo O POVO, mostrou na última segunda-feira, a popularidade de José Sarto (PDT) não vem bem. Estava ruim em dezembro, piorou em março e tende a decrescer mais com as chuvas.

Não é um imperativo. O governo Camilo Santana (PT) mostrou que momentos de dificuldades podem projetar os governantes, se eles tiverem respostas aos problemas. Fortaleza, pode não parecer, avançou em relação ao convívio com as chuvas nas últimas décadas. Digo isso a partir de um parâmetro: 2004 foi a última vez em que foram registradas mortes em função das chuvas. Era algo com que se convivia com certa naturalidade até. Um óbvio indicativo de atraso. Mas, obviamente, a situação não é boa.

Impactos eleitorais

O ano é de eleição. Sarto foi eleito numa disputa apertada. Tomou posse no meio da segunda onda da Covid-19, passou por lockdown e tem tido problemas. Não é uma gestão que empolgue. Da forma como está e com a força de Capitão Wagner (União Brasil) em Fortaleza, a gestão Sarto poderá ser um ponto fraco para os governistas na eleição estadual.

Foto do Érico Firmo

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