Rosa da Fonsêca nunca coube em cargos ou instituições
Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Rosa da Fonsêca nunca coube em cargos ou instituições
Mesmo os maiores desafetos hão de reconhecer nela alguém que sempre se moveu por profunda convicção no que acredita, sem jamais colocar ambições pessoais à frente
No ensaio biográfico que assino sobre Rosa da Fonsêca para a coleção Terra Bárbara, pelas edições Demócrito Rocha, escrevi que dificilmente alguém na história política do Ceará fez tanto barulho com tão pouca atuação institucional. Quando falamos de Rosa, mencionamos "a ex-vereadora". Só ex-vereadora? Sim, é comum colegas jornalistas perguntarem sobre outros cargos. Não foi deputada? Não. Foi presidente da CUT Ceará, mas definitivamente o tamanho de Rosa não cabe nos cargos que ela ocupou. Ela não gostava de instituições — é emancipadora. O papel que ela tem não é por causa desse ou daquele cargo.
Tanto que, nesse solitário mandato, ela não está na foto oficial da posse. Porque, durante a solenidade, soube que uma comunidade estava sendo expulsa das moradias e abandonou a sessão para ir até o local. Sem mandato, em 10 de janeiro de 1988 O POVO a descrevia: "A mulher mais polêmica do Ceará". Foi das mais incômodas opositoras de Juraci Magalhães, de Ciro Gomes.
Sobre Tasso Jereissati, O POVO também citava naquele mesmo 10 de janeiro: "A simples alusão a seu nome é capaz de desconcertar o governador Tasso Jereissati". Rompeu com o PCdoB e foi expulsa do PT. Atuou contra a ditadura militar e queria fazer parte da luta armada. Como não tinha aptidão para pegar em armas, decidiu cursar enfermagem — desistiu ao chegar às aulas práticas, da anatomia, e ver que aquilo não era para ela.
Estava na organização da luta pela anistia, até a ocupação do Cocó, em 2013, quando deu dores de cabeça a Cid Gomes. Ela coordenou o primeiro protesto do "fora, Collor", em Juazeiro do Norte, que fez o ex-presidente dizer que tinha "aquilo roxo". Rosa fez isso e muito mais.
Mesmo os maiores desafetos hão de reconhecer nela alguém que sempre se moveu por profunda convicção no que acredita, sem jamais colocar ambições pessoais à frente. Mostra foi dada quando ela pediu demissão do cargo de auditora fiscal concursada da Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz) para ser professora da rede pública de Fortaleza. Era assim, como professora, que Rosa era identificada, mais que como ex-vereadora.
Esse desapego e a falta de ambições pessoais de Rosa, aliados à entrega às causa e convicções, não têm paralelo na política do Ceará.
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